sábado, 7 de abril de 2012


ESTA É APENAS UMA PARTE DO PRIMEIRO DISCURSO QUE CONSTA DO LIVRO. COMENTÁRIOS E RESTANTE SERÃO COLOCADOS DEPOIS, POIS O DISCURSO É IMENSO. VÁ FALAR TANTO ASSIM LÁ NA ""CAIXA PREGO""!

No dia 14 de março de l979, os metalúrgicos do ABC entraram em greve. No dia 22, no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, Lula submeteu a uma assembléia de 90.000 trabalhadores um documento assinado por representantes dos patrões e a volta ao trabalho e a constituição de uma comissão integrada por representantes dos trabalhadores, dos empresários e do governo, para estudar, num prazo de 45 dias, um acordo que  pusesse fim ao movimento grevista. 

Nesta assembléia, depois de destacar o significado do comento e de advertir pra o  risco de uma intervenção, Lula colocou-o em votação, e ele foi rejeitado.  No dia seguinte, os sindicatos de São Bernardo do Campo e Diadema, Santo André e São Caetano do Sul sofreram uma intervenção federal. 



Companheiros:

Hoje teremos que tomar aqui, quem sabe, uma decisão muito mais importante ainda do que a decisão que tomamos de entrar em greve.


É importante, muito importante mesmo, que vocês prestem atenção nesse documento.  Esse documento foi feito ontem à noite, datilografado hoje e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano se comprometeram a trazer este documento para apreciação desta assembléia. E não poderia deixar de ser diferente porque, desde que começamos este movimento, tudo o que foi discutido , tudo aquilo que nós ouvimos dos empregadores, a gente trouxe aqui à presença dos senhores, e a diretoria e a comissão de salários se submeteram à decisão máxima deste plenário.


Eu vou ler o documento e vocês prestem bastante atenção porque, antes de eu colocar a minha posição pessoal e a minha posição de presidente do sindicato darei uma série de explicações sobre este documento.


“Na presença do Excelentíssimo Sr. ministro do Trabalho, Dr. Murilo Macedo, os Sindicatos dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Mecânicas e de Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diadema, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e São Caetano do Sul, e os Sindicatos Patronais do 14º grupo, Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, mais a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, procurando conjuntamente soluções elevadas e patrióticas para o problema gerado pelas paralisações do trabalho na região ABC, deliberaram formar um acordo nos seguintes termos: 

1º) Entre os sindicatos metalúrgicos de empregadores e de empregados deliberou-se que os trabalhadores concordam com o retorno ao trabalho e que será assinado o protocolo de intenções já firmado por uma parcela da categoria com as ressalvas constantes das letras seguintes: 

a)         Fica criada uma comissão tripartite, integrada por representantes dos trabalhadores, dos empresários e do governo, com a finalidade de estudar, dentro do prazo de 45 dias, o item 2º do referido protocolo, que dispõe sobre o reajuste salarial dos empregados de empresas que concederam aumentos salariais reais por acordo ou outra forma, entre 2 de abril de l978 e a presente data. 
b)         A representação dos trabalhadores na aludida comissão tripartite será constituída pelos sindicatos profissionais signatários deste acordo e poderá contar com um representante dos signatários do protocolo de intenção.
c)         Competirá ao governo através da ação mediadora do ministro do Trabalho, estabelecer a solução conciliatória, em havendo divergência entre as partes.
d)         Os empresários assumem o formal compromisso de não aplicarem penalidades de quaisquer natureza, inclusive demissão, aos empregados que participaram das paralisações gerais, e durante 120 dias, havendo demissão por outro motivo, será ela comunicada por escrito ao trabalhador dispensado, com as razões determinantes da dispensa.
e)         O valor relativo às horas paradas será adiantado aos trabalhadores mediante vales, os quais serão resgatados no mínimo, através de cinco parcelas, de igual valor à primeira, começando no mês de maio.

2º)  Por sugestão do Sr. ministro do Trabalho, as partes se incumbem de encaminhar ao governo estudos referentes à legislação do FGTS e da estrutura sindical, dentro de 240 dias; da legislação de greve, da nova sistemática da representação sindical e do sistema de negociação coletiva, dentro de l80 dias para análise do Ministério do Trabalho e eventual encaminhamento ao Congresso Nacional de mensagens governamentais que possam resultar em novos instrumentos legais para a regulamentação dessa matéria.

A assinatura deste acordo manifesta o compromisso das partes em levá-lo para a discussão nas assembléias.”



Então, os três sindicatos assinaram este documento, comprometendo-se a trazê-lo para a apreciação da assembléia. 

Agora, algumas explicações que eu acho fundamentais. Peço aos companheiros trabalhadores que prestem bastante atenção. (FEZ COM QUE OS OPERÁRIOS SE SENTISSEM IMPORTANTES, E OUÇAM SUA VOZ).

Vocês viram que a proposta não prevê o aumento imediato de nosso salário.  O que se pede nesse documento é que os trabalhadores voltem a trabalhar de imediato. Dentro de 45dias, a partir da volta ao trabalho, serão discutidos os nossos 11%. Companheiros, deixem eu dar todas as explicações, pois tem muitas explicações, tem muitas mesmo. Diz também o documento que sequer as horas que nós ficamos em greve serão pagas. Essas horas serão descontadas em cinco parcelas, a partir do dia 10 de maio.  Diz também esse documento que as outras coisas, o delegado sindical e outras reivindicações que nós fizemos, serão discutidas apenas, quem sabe, a partir de 180 dias, e algumas a partir do primeiro dia.


Eu queria que vocês entendessem uma coisa muito importante.  Desde o primeiro dia, desde a primeira assembléia que nós fizemos, no sindicato ou aqui, eu disse a vocês que a diretoria do sindicato e a comissão de salários iriam até às últimas conseqüências para conseguir  o nosso aumento de salário.  Gostaria que os companheiros deixassem para se manifestar na hora em que eu terminar as explicações que eu considero de muita valia para todos os trabalhadores.


O Ministério do Trabalho teve, na minha opinião, um comportamento exemplar. Eu nunca tinha visto, nunca – desde ll972 que eu estou no sindicato e desde l975 que eu sou presidente do sindicato - , eu nunca vi um ministro do Trabalho com posições tão honestas  como foram as do Murilo Macedo.  Entretanto, eu nunca vi, mesmo, tanta safadeza como eu dos empresários.

Eu já disse a vocês que os 11º serão discutidos – segundo proposta deles – a partir do nosso retorno ao trabalho.  Entretanto, eu gostaria de alertar os companheiros para uma coisa.  Ontem, pelo menos todos os que estão aqui, ou pelo menos aquelas quase três mil pessoas que se encontravam no sindicato estavam preocupadas, estavam muito preocupadas com uma coisa chamada “intervenção no sindicato”.  Não foram poucos os companheiros que, quando eu cheguei às três e meia da manhã, me procuravam pra saber se iria realmente haver intervenção.  E aqui na assembléia ontem à tarde, os companheiros do Sindicato de Santos, os companheiros do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia alertavam os companheiros para irem ao sindicato, porque corríamos o risco de uma intervenção.

CONTINUA...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DISCURSOS - Segunda parte do livro

  

"Este livro foi editado pelo Núcleo Ampliado de Professores
do Partido dos Trabalhadores-PT, de São Paulo"  



Se as entrevistas mostram com clareza a evolução do pensamento de Lula, seus discursos constituem uma prova cabal de sua profunda identificação com a classe trabalhadora, principalmente os metalúrgicos que ele representa através do Sindicato de São Bernardo do Campo e Diadema.  As campanhas salariais conduzidas pela diretoria desse sindicato representaram os momentos cruciais da mobilização dos metalúrgicos do ABC a partir de l978.  Não há dúvida de que essa mobilização teve como um de seus suportes básicos a palavra de Lula.  Falando a seus companheiros numa linguagem direta, clara, por vezes rude, Lula revelava-se não um mestre, mas um igual, um membro do mesmo universo de necessidades, lutas e trabalhos. Ouvindo-o, os trabalhadores ouviam sua própria voz.
Nas assembléias convocadas durante as campanhas salariais, a maioria reunindo dezenas de milhares de trabalhadores – algumas alcançando perto de 100.000 pessoas -, os discursos de Lula foram sempre decisivos quanto a orientação das campanhas e ao comportamento a ser adotado pelos metalúrgicos.  E mais do que isso, é nessas assembléias que, através de pinceladas cruas e realistas, Lula tem revelado a seus ouvintes  o que todos eles conhecem  mas poucos conseguem discernir com clareza:? Os traços cruéis das relações entre capital e trabalho.

A coletânea apresentada neste livro, embora incompleta e contendo discursos truncados pela impossibilidade  de reconstituição integral, mostra de modo claro e suficiente a identidade  de pensamento e ação entre Lula e a classe trabalhadora. A divulgação desses discursos poderá contribuir para aprofundar a reflexão sobre a dura realidade da classe trabalhadora brasileira, mas deverá sobretudo constituir um instrumento capaz de fazer avança a mobilização (avançar rumo à vida política seria mais correto) iniciada em São Bernardo, para a qual a palavra de Lula deu força decisiva.