sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A VOZ E A VEZ dos trabalhadores



O livro, comprado num sebo, veio com esta página manchada e um pedaço rasgado no final à esquerda. As outras páginas estão com alguns trechos marcados e algumas anotações, mas inteiras.



A VOZ E A VEZ
dos trabalhadores


Os acontecimentos de que foram protagonistas os metalúrgicos do ABC, nos anos 78-80, constituem sem dúvida momentos de grande significado no processo histórico brasileiro. E entre os protagonistas desses acontecimentos, a figura de Luís Inácio da Silva, Lula, ocupa indiscutivelmente o primeiro lugar. Sua liderança se formou a partir do momento em que, soando como algo estranho no cenário sindical do país, sua voz assou a encarnar os anseios mais simples e imediatos – por isso mesmo os mais legítimos – de seus companheiros de fábrica.Ao longo desses três anos, durante os quais os metalúrgicos deflagaram três importantes greves, Lula viu o momento que germinara modesto atingir dimensões de âmbito nacional. Foi de dentro desse movimento que ele emergiu para a vida política. Se isso ocorreu contra sua própria vontade, foi porque os trabalhadores que ele liderava, ao reivindicaram coisas tão singelas quanto um salário decente e um mínimo de estabilidade no emprego, esbarraram numa obstinada intransigência do poder político. Assim, ao contrário de esgotar-se em si mesmo, como desejavam alguns, ... movimento passou a ... contornos imprevisíveis, puramente reivindicatórios.... aspirações dos operários orientaram-se para o terreno em que se assenta a própria estrutura de poder.Ao encarnar essas aspirações, e ao empenhar-se na construção de um sindicalismo que levasse os trabalhadores a tomar consciência dos próprios direitos, em vez de se limitar a funções meramente assistenciais, Lula começou a incomodar os donos do poder. Para esses donos do poder, passou a ser uma ameaça a movimentação de uma parcela do exército de explorados que, no entender dos beneficiários do milagre brasileiro, além de produzir mais e mais riquezas, devem conformar-se com a miséria e a exploração.Uma vez vislumbrada essa ameaça, não é de estranhar a fúria com que se atiraram sobre Lula e outros líderes sindicais os órgãos de repressão (*1). Além de terem sido destituídos dos cargos que lhes foram confiados pelo voto dos companheiros, foram encarcerados ilegalmente e processados por crime contra a Lei de Segurança Nacional. Na verdade, o que existe portrtás desses processos é a mão do próprio regime, que visa abafar um movimento, hoje considerado por todo o país, que resultou na criaç~çao do Partido dos Trabalhadores. Essa movimentação amedronta o poder ... para sustentar-se em meio à corrupção, ao terrorismo e à crise econômica, precisa manter o povo no silêncio e no conformismo. Daí as manobras e as perseguições contra as lideranças de um partido que o próprio povo criou.Ao registrar as palavras e o pensamento de Lula, este livro pretende mostrar ao público brasileiro o quanto são justas as aspirações da nossa classe trabalhadora. Se Lula não se tem cansado de repetir sua mensagem é porque está convicto de que suas palavras traduzem necessidades legitimas. Cada letra aqui impressa constitui uma prova da legitimidade dessa mensagem; e cada leitor será um juiz cuja sentença contribuirá para que a História se encarregue de julgar os que outorgaram a si mesmos o poder de usar a Justiça para sustentar a exploração dos trabalhadores.No entanto, mais do que as palavras de Lula, este livro registra alguns momentos significativos da própria História do Brasil – os acontecimentos vividos pelos operários do ABC. Por isso, este é um livro escrito por trabalhadores. Ele guarda em suas páginas a memória de um tempo feito por homens que através de sua disposição de luta e da palavra de seu líder, mostraram que a classe trabalhadora brasileira é capaz de construir seu próprio destino (*2).




(*1) Vocês verão adiante o exagero oportunista quando o livro fala sobre a FÚRIA dos órgãos de repressão em cima do suposto pai dos trabalhadores, quando o próprio Lula comenta sobre seus dias de ‘presidiário sofredor’ numa das entrevistas.

(*2) Após 29 anos, Lula chegou à Presidência da República e os trabalhadores ainda não encontraram seu destino. Lula foi um incompetente ou um mentiroso?

Apresentação do livro


APRESENTAÇÃO DO LIVRO
Contra-capa e Índice

Por que editamos este livro(contra-capa)Editar um livro que reunisse as principais entrevistas de Lula na imprensa e seus discursos no estádio de Vila Euclides nos pareceu importante por diversas razões:Em primeiro lugar, porque ele registra palavras de um operário que conhece profundamente os problemas de sua classe. Assim, o livro constitui um verdadeiro retrato da situação dos trabalhadores, suas necessidades, seus interesses, seus sofrimentos...Em segundo lugar, porque o livro registra alguns acontecimentos que vão entrar para a História do Brasil. Da maneira como geralmente é escrita e ensinada, esta História não mostra a participação do povo na vida do país nem a exploração a que os trabalhadores são submetidos. São contadas apenas as ações dos governantes (imperadores, presidente, ministros), dos ricos, dos generais, dos ‘heróis, etc. O livro de Lula, ao contrário, conta fatos vividos pelo próprio povo: os metalúrgicos do ABC e sua luta por melhores salários e melhores condições de vida.O livro é importante ainda porque Lula e outros líderes sindicais estão sendo processados pelo governo por defenderem os trabalhadores e por organizarem um partido representativo dos verdadeiros interesses do povo. A publicação do livro é uma forma de apoiar a sua luta e de demonstrar que os trabalhadores estão do lado deles.São Paulo, outubro de l980Núcleo Ampliado de Professores do Partido dos Trabalhadores (São Paulo)Toda a renda do livro destina-se, em partes iguais, ao Partido dos Trabalhadores e ao fundo de greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.

- ÍNDICE -


Entrevistas
l978
24 de março – Pasquim
3 de abril – Visão
10 de abril – Jornal do BrasilMaio – Vox Populi, TV Cultura
4 de junho – Folha de S.Paulo
10 de junho – MancheteJulho – Senhor Vogue
23 de julho – Diário do Grande ABC
24 de setembro – Folha de S.Paulo


1979
14 de janeiro – Jornal do Brasil
21 de fevereiro – Isto É
24 de março – Folha de S.Paulo
4 de abril – Movimento
5 de abril – Gazeta Mercantil
29 de abril – Jornal da Semana
22 de maio – Renato Tapajós
25 de maio – Em Tempo
Julho – Playboy
Dezembro – ABCD

1980
10 de janeiro – Em Tempo
12 de fevereiro – Tribuna da Imprensa
20 de fevereiro - Isto É
Abril – Revista Especial
28 de maio – Isto É
3 de julho – Em Tempo


Discursos


1979
22 de março - Estádio da Vila Euclides na véspera da intervenção do Sindicato.
27 de março – Paço Municipal de São Bernardo :suspensão da greve.
1º de maio – Estádio de Vila Euclides lotado, diante de numerosas categorias de trabalhadores.
13 de maio - Estádio de Vila Euclides: fim do prazo de 45 dias.26 de maio – Sindicato, após suspensão de intervenção.


1980
30 de março – Estádio de Vila Euclides: decretação da greve.
1º de abril – Estádio de Vila Euclides: primeiro dia de greve.
3 de abril - Estádio de Vila Euclides, no dia seguinte à decisão do TRT de declarar-se incompetente para julgar a greve.
7 de abril - Estádio de Vila Euclides, 7º dia de greve.
8 de abril - Estádio de Vila Euclides, 8º dia de greve.
10 de abril - Estádio de Vila Euclides, 10º dia de greve.
14 de abril - Estádio de Vila Euclides, 14º dia de greve.
17 de abril – Sindicato, às 22 horas, após a notícia da intervenção

Está aí o poder da mídia, que vendia suas edições, praticamente sencionalistas, ao enfatizar a imagem de um sindicalista que surgiu numa hora bem apropriada: o limite entre o regime autoritário e a proximidade da democracia. Hoje, quem elege um semi-analfabeto à Presidência da República é o povão que nele se espelha, mas quem deu força e fez o astro-pop Lula crescer foi a imprensa. A mesma imprensa que, atualmente, ele tenta censurar por expor sua incapacidade e seus conchavos .