Quatro dias depois da intervenção nos sindicatos do ABC, os metalúrgicos, reunidos em assembléia, votaram pelo retorno ao trabalho por um prazo de 45 dias.
Durante esse período as negociações entre patrões e operários deveriam continuar e, ao final, caso as reivindicações dos trabalhadores não fossem atendidas de forma satisfatória, novamente a greve seria decretada.
Foi durante esse período que Lula concedeu esta entrevista. Nela, diz em que se baseava para afirmar, com convicção, que as reivindicações dos trabalhadores seriam atendidas e por que tinha certeza absoluta na volta da diretoria afastada. Analisa a evolução do movimento diante dos fatos que ocorreram entre as assembléias do dia 22 e do dia 27 de março e explica porque, em dado momento, a coordenação da greve deixou de dar ênfase à reivindicação do delegado sindical. Mostra também o que ocorreu com o movimento logo após a intervenção e fala do fundo de greve.
- Ao propor ao pessoal que voltasse ao trabalho e ao dizer que tinha certeza de que as reivindicações serão atendidas, você estava se baseando em compromissos concretos assumidos pelo ministro do Trabalho e pelos empresário? Os dirigentes da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) estão dizendo que não assumiram nada. - Eu não falei aquilo em atermos de ministro, nem em termos de FIESP. Eu falei aquilo em termos de luta da classe trabalhadora. Falei pensando que os trabalhadores vão conseguir isso porque nos temos condições de conseguir. Basta que sentemos novamente numa mesa de negociações e vamos ver se os caras vão pagar pra ver outra vez.
- O que você acha das notícias de que as empresas estão dispensando muita gente e que não estão pagando os dias parados? - A minha impressão é que parece que não houve a informação a todas as empresas. Conversei com o Dr. Maurício (advogado dos sindicato) para ele entrar em contato com todas as empresas, com a a FIESP, com o ministro do Trabalho, para resolver esse problema. Para nós, o que interessa é que os trabalhadores sejam readmitidos nas indústrias.
- Os empresários sempre se comprometem a não dispensar ninguém, mas no final de algum tempo acabam dispensando as lideranças mais conhecidas, tal como aconteceu nas greves anteriores. Que tipo de arma vocês têm para conter essa dispensa ? - Eu acho que só existe uma arma. Se os empresários continuarem mandando gente embora, o que temos que fazer é parar outra vez. Eu acho que a principal coisa e a normalização do sindicato, para os operários poderem usar seu instrumento legal. TA: OS EMPRESÁRIOS dispensavam AS LIDERANÇAS MAIS CONHECIDAS, por que, ao ivés talhar, eles usavam o tempo de serviço aliciando operários para greve.)
- Você acha que há uma real possibilidade de você, da sua diretoria, voltarem para o sindicato? - Eu tenho certeza absoluta disso.
- É uma certeza pessoal? - É uma certeza pessoal baseada em alguns dados concretos. Eu não tenho dúvidas de que se não houver essa volta dentro de um determinado tempo, os trabalhadores pararão novamente para exigir a volta da diretoria. E é lógico que há pessoas negociando a volta.
- Qual a diferença entre a situação do dia 22, quando se propôs a continuidade da greve, e a do dia 27, data da última assembléia, quando se resolveu voltar ao trabalho ? Você acha que os trabalhadores dariam um passo atrás se tivessem decidido parar a greve dia 22 ? - Entre as duas assembléias aconteceram mil e uma coisas, a situação não era a mesma. Quem disser que era a mesma coisa é porque não enxergou o que aconteceu depois daquela nossa recusa, com o fato culminante da intervenção no sindicato. O fim da intervenção passou, então, a ser a maior reivindicação dos trabalhadores. Outra coisa que aconteceu é que naquele outro acordo, eles queriam que os dias de greve fossem descontados parceladamente e agora os dias vão ser pagos, enquanto se negocia se vai haver ou não o desconto.
A sua opinião é que os dias de greve não vão ser descontados ? - Eu acho que a possibilidade é essa e a gente já começa a negociar outra vez. Para mim, a coisa está na estaca zero. A gente vai começar tudo outra vez.
- Mas é uma situação mais favorável do que antes da intervenção? A greve foi uma coisa muito dinâmica e parece que as reivindicações foram modificando sua importância na medida em que a greve se desenvolvia. Na última assembléia, não se falou na reivindicação que pedia estabilidade para os delegados sindicais que, segundo os patrões, foi o que originou a greve. - Esta é a teoria dos patrões. Eles usaram muito bem isso. O trabalhador não ia fazer greve só por causa do delegado sindical. Os patrões tentaram usar o delegado sindical, que é uma coisa não muito conhecida dos trabalhadores, como motivo da greve, exatamente para desarticular a greve.
- Como é que você encara então o problema do delegado sindical? - Da mesma forma como encarávamos antes da greve, antes da intervenção. Eu tenho consciência de que o delegado sindical é a coisa mais importante, ao nível do sindicato. Ao nível da categoria, não é.
- O presidente da Volkswagem , durante a greve, acusou o movimento de estar sendo manipulado por uma minoria, e disse que na Alemanha, para se decidir uma greve, é necessário que haja uma votação de dois terços dos associados. - Eu acho que a pequena minoria a que ele quer se referir é a seguinte: a minoria de 100.000 trabalhadores em greve (são manipulados, não decidem) levados. Aqui no Brasil, os estatutos também falam em votação. Mas a democracia que nós seguimos no Estádio da Vila Euclides é muito melhor do que a que está na lei.
Após a intervenção no sindicato, a greve continuou, mas houve uma desorganização muito grande. Vocês esperavam isso? A greve foi muito abalalda com a intervenção? A partir da intervenção, o trabalhador ficou órfão de pai e mãe, ficou fazendo as coisas mais pela rua, cada um ficou fazendo o que tinha em sua cabeça. Não havia lugar para encontro, para reunião, para nada. Aquela assembléia de sábado, que tomou posição extraordinária, foi uma das assembléias mais desorganizadas. Saiu pancadaria, todo mundo correu. Em função disso, no domingo, a gente assumiu a coisa.
- Mas vocês não achavam que a greve seria muito difícil com a intervenção no sindicato? - Estávamos tranqüilos que ia ser difícil (ATO FALHO ?). O que a gente tem que olhar é o seguinte: é que existe uma diretoria que vinha fazendo um trabalhão há muito tempo e que em cima dela é que estava calcado tudo aquilo que aconteceu. Desde o momento e que a diretoria saiu da jogada, não seria a comissão de salário que iria conseguir articular uma assembléia de 80 000 trabalhadores . Se fosse uma assembléia de 100 trabalhadores tudo bem. Mas era uma assembléia de quase toda a categoria, então tinha que ter pessoas mais conhecidas, para poder rearticular a coisa . Foi em função disso que eu assumi o comando da greve no domingo, para não deixar que ela descambasse. Porque aí os aproveitadores começaram a aparecer aos montes.
- Vocês levantam há muito tempo a bandeira da autonomia sindical. Conhecendo a legislação trabalhista e o direito que ela dá ao governo de chegar no meio de uma greve dessas e tomar o sindicato, vocês não acham que foi um risco grande essa greve estar calcada cem por cento no trabalho da diretoria? - Mesmo com a intervenção, a gente passou a se convocar para a assembléia sem boletim. Passou sexta, sábado, domingo, segunda e, na terça-feira, fizemos uma assembléia com 70 000 trabalhadores.
- Mas parece que houve um período de vácuo após a intervenção. - Houve um período de vácuo, mas não de volta ao trabalho. Houve um período de não participação porque não havia nada convocado.
- Na medida em que o pessoal soube que você voltou, a situação ficou mais tranqüila. - É, a preocupação do pessoal era saber onde eu estava, se eu estava preso. Quando percebi que isso podia atrapalhar o movimento, então resolvi voltar, inclusive colocando o pescoço na guilhotina, porque aí eu estava cassado e não era fácil voltar e assumir o comando da greve.
- Vocês estavam acompanhando as dificuldades das empresas pra ver quem tinha maior poder de resistência? - A gente sabia que as coisas não estavam bem para eles, mas eu acho que os patrões têm maior poder de resistência do que a gente. Uma empresa como a Volkswagen, ou como a Ford, agüenta um mês de greve. Eles agüentam porque recebem subsídio do governo, financiamento. Mas nós não temos nada. A partir de um determinado dia o trabalhador começa a medir o tempo que está parado. Ele já começa a pensar: dia 10, o que é que eu vou receber Se a gente tivesse um fundo de greve, tudo bem, mas a gente ainda não tem. Por isso chega um determinado momento em que a gente tem que saber a hora certa de parar, para a categoria não começar a afundar.
- O que você teria a dizer para o pessoal que, no Brasil inteiro, se mobilizou em apoio à greve do ABC? - Eu acho que esse pessoal precisa continuar se mobilizando, porque o fundo de greve não é uma coisa criada apenas durante a greve. Tem que ser um fundo que sirva para ajudar os sindicatos que fazem greve, um fundo para atender cada emergência. Amanhã, se um sindicato lá em Pernambuco entrar em greve, ou lá em Alagoas, tem que existir um fundo preparado para ajudar esse pessoal.
- Você disse, na última assembléia, que iria atender os trabalhadores na Matriz de São Bernardo. Então, o Sindicato vai funcionar lá? - Não, o sindicato está funcionando na rua João Basso. Mas a diretoria que foi cassada vai continuar conversando com os trabalhadores na Matriz de São Bernardo.
Movimento, 2 a 4 de abril de l979.
Entrevista concedida a Tânia Angarini e Marcos Gomes
Informações sobre o Jornal Movimenmto
Um comentário:
Offtopic:
SOS FICHA LIMPA
Amigo, meu blog (caranovanocongresso.blogspot.com) desde sua concepção se dedica a fazer clipping que denuncie políticos corruptos e os corruptores, e a manter viva na memória de todos o cinismo corporativista dos congressistas, que perpetua corruptos denunciados naquelas casas e também as renúncias de parlamentares que assim fogem da impunidade pra permanecer elegíveis.
Nossas leis falham, por não impedir a candidatura dessa gente.
Resta o horror de ver isto continuar acontecendo? Resta a indignação de ver que não existe limite para estes bandidos?
NÃO! Podemos mudar a lei, podermos limpar a política e pra isso temos um projeto popular, respaldado por mais de 1,3 milhões de assinaturas, com o objetivo de barrar a entrada na política, ou impedir a reeleição, dos chamados “Fichas Suja”.
O Projeto de Lei (PL) 518/09 (Ficha Limpa) entregue ao Presidente da Câmara, Sr. Michel Temer, na porta da Câmara dos Deputados no dia 30/09/2009.
Que foi engavetado e lá vai permanecer se não houver participação popular, temos que lutar pra que os excelências o tirem da gaveta e o aprovem.
Temos que mostrar aos deputados o que queremos através de recados (emails) aos parlamentares.
Na “Rede Bravas Gentes Brasileiras” somos (hoje) 146 membros, e temos uma capacidade ainda não testada, de multiplicar nossa ação. Aqueles que ainda não se filiaram estão convidados a se juntar à nossa rede: http://bravagentebrasileira.ning.com). Esta rede foi criada pela nossa colega e amiga Thaís Gomes. A Thais criou também um Twitter >>>> http://twitter.com/bravagenteb pra que possamos nos comunicar com mais velocidade e a qualquer tempo. Através da rede poderemos sincronizar nossos blogs para divulgar e massificar a campanha.
Estudamos e concluímos que seria interessante se pudéssemos sincronizar uma onda de emails e “literalmente entupir a caixa de email dos excelências”. Vamos mostrar que somos capazes de mobilizar um grande número de brasileiros. Vamos provocar um TSUNAMI de emails, porque o PL 518/09 precisa ser aprovado até junho de 2010.
Escolhemos o 1/2/2010, primeiro dia útil de trabalho(?) dos excelências, para o envio da primeira onda. Sem dúvida precisaremos marcar outras datas/ondas, porque contamos com a resistência dos deputados. Com a repercusão conseguiremos mais adesões para as ondas seguintes.
Pra que a gente consiga esta sincronia e adesão vamos precisar da colaboração de todos.
Conto com a confiança e o entusiasmo de todos, acredito que você será um daqueles pilares em quem poderemos nos apoiar pra que a idéia da aprovação do PL 518/09 seja bem sucedida.
Obs.: Em meu blog tenho dicas de como enviar emails aos deputados, inclui tbm um modelo de email pra ser enviado.
Postar um comentário