quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Entrevista ao Programa Vox Populi - TV Cultura / São Paulo


maio de l978





Esta entrevista evidencia que Lula é um embuste desde o início.  Logo na resposta à quarta pergunta Luís Inácio procura passar uma falsa humildade.  Na apresentação dão ênfase ao fato de Lula  deixar bem claro que não pretendia entrar para a vida política, quando ele sempre insinuou a necessidade de um partido político para os trabalhadores.   E nos mostra, principalmente,  quem foi o maior responsável pela criação da falsa imagem de Lula: a imprensa que lhe deu popularidade e hoje, ao  criticá-lo,  começa a sentir os efeitos do seu autoritarismo, o peso da censura que  procura calar quem o enalteceu e colocou  "no colo'  do povo.  

Ao responder à quinta pergunta, Luís Inácio diz "recentemente tive uma briga com a empresa e fui promovido a mestre júnior".  Estranho exigir promoção da empresa pois estava afastado da Villares há seis longos anos. Estranho também é perceber que, disfarçadamente, ele  sempre se refere ao sindicato como se falasse de si mesmo.   Aparentemente, os jornalistas  não percebiam fatos tão evidentes.  Preferiam
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Apresentação


A participação de Lula num programa de televisão, em maio de l978, revestiu-se de grande importância, pois, transmitida através do vídeo, sua imagem alcançou enorme projeção.  Embora suas idéias e sua atuação no movimento sindical já viessem sendo divulgadas pela imprensa, foi pela televisão que o grande público teve a oportunidade  não só de ver pela primeira vez a pessoa do Lula, como principalmente de tomar contato com seu pensamento e suas opiniões sobre o sindicalismo, a situação dos trabalhadores, o papel dos políticos, dos estudantes e da Igreja.


Reafirmando repetidamente seu compromisso com a classe trabalhadora, Lula, por um lado, deixou bem bem claro que não pretendia entrar para a vida política, e, por outro, afirmou que os operários poderiam criar seu próprio partido político.






- Boa noite, Luís Inácio da Silva, o Lula, dirigente sindical.
- Boa noite!


- Qual sua expectativa diante da iminência de encontro com a voz do povo?
- A expectativa de sempre.  Eu sempre fico na expectativa de que alguma coisa  que eu venha a falar possa ajudar a classe trabalhadora.


- Você poderia rapidamente traçar o seu perfil?
- Eu prefiro que vocês tracem o meu perfil.


- Como o senhor conseguiu chegar ao que o senhor é hoje no sindicato?
-Eu não sou nada no sindicato. Eu sou apenas um presidente do sindicato devido ao trabalho  de toda uma equipe e à compreensão de toda a classe trabalhadora me deu. Mas continuo torneiro mecânico, convicto de que amanhã voltarei para a firma em que eu trabalho e serei o torneiro mecânico que eu era antes de me afastar para o sindicato.


- Você ainda é torneiro mecânico?
- Eu sou torneiro mecânico e é a única coisa que eu sei fazer.  Recentemente  tive uma briga com a empresa e fui promovido a mestre  júnior, ganhando um pouco mais do que ganhava como torneiro mecânico, mas nunca fui mestre, sempre fui torneiro mecânico.

- Você ganha pela empresa ou pelo sindicato?
- Eu ganho pelo sindicato.   Existem duas formas receber quando se está ligado ao sindicato.  Alguns sindicatos recebem pela empresa.  Mas nós, em São Bernardo do Campo, recebemos pelo sindicato.

- Quanto ganhava pela empresa?
- Se eu voltar para a empresa, o meu salário será de Cr$ 15.00,00, o que eu ganho pelo sindicato.

- Gostaria de saber se você não acha que está sendo usado pela classe dominante na medida em que você aparece nas entrevistas da grande imprensa, nos jornais e aqui, no "Vox Populi".
- Eu sei lá... Aí fica para a interpretação de cada um.  Veja bem: o movimento sindical esteve adormecido durante muitos anos, e agora que acordou, surgem argumentos de que o sindicalismo está sendo usado pelo governo ou pela própria imprensa.  Mas o que eu quero deixar bem claro, e essa é minha convicção, é que se durante toda a sua existâencia o sindicalismo bfrasileiro adormecido não conseguiu resolver os roblemas da classe trabalhadora, eu espero que agora seja dada a oaportundiade a alguns dirigentes  sindicais qeestão acordados e estão entando resoler os problemas da classe trabalhadora.

- Com a popularidade de que desfruta no momento, você tem alguma pretensão política para o futuro?
- Não tenho pretensão política. Isto eu faço questão de deixar bem claro, eu  quero dizer que  que a única coisa que aprendi a fazer na minha vida foi ser torneiro mecânico, e estrou tentando aprender a ser um bom sdirigente sindical.  Não tenho jpretensões çpoliticos, não sou filiado a partido político e tenho certeza de jamais participaria da vida política, çporque eu não sirvo para político.

- Com a expressividade votante de seu sindicato 940.000 votos e as decantadas perspectivas de mudanças do quadro político-partidário, você não seria um candidato em potencial?
- Acredito que não. Em minha categoria há inúmeros trabalhadores com melhores condições de candidatura que eu. Eu acredito e quero crer que o que falta para nós, trabalhadores é saber escolher nossos representantes e medir nossa força para que amanhã possamos eleger um sem número de trabalhadores para nos representar nas Câmaras Federal, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais e no Senado. Isso porque há uma certa tendência do trabalhador de entender que para representá-lo é necessário ser intelectual, ter diploma de advogado e uma série de coisas. Mas nenhum advogado, nenhum intelectual entende melhor o problema do trabalhador do que o próprio trabalhador. Basta o trabalhador começar a ser eleito para representar a sua classe.

- Esses 40.000 votos que você potencialmente teria ficariam para quem?
- Eu não represento 40.000 votos. Há um engano. Eu tive 28.000.000 votos nas eleições do sindicato. Eu respeito o direito de o trabalhador escolher o seu candidato.

- (Roberto Augusto Ferreira Galvão, secretário de Relações do Trabalho de São Paulo) - Você não acha que a projeção que você tem hoje como líder sindical deve-se à autonomia que o sindicalismo tem atualmente no Brasil?
- Há um equívoco da pessoa que me fez essa pergunta, porque não existe autonomia no sindicalismo brasileiro. O que existe é a coragem e a falta de ‘rabo preso’ de alguns dirigentes sindicais para com o governo, a classe política, os empresários e até para com a fonte ideológica. Existe um grupo de dirigentes sindicais sérios, honestos, dispostos a brigar por sua categoria. Eu não acho que exista autonomia sindical no Brasil. A estrutura sindical brasileira hoje é a mesma que existia em l939.

- (Erasmo Dias, ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo) Nós participamos ativamente em 62 e 65, acompanhando a atividade sindical, em particular na Baixada Santista, na época, no Fórum Sindical de Debates. E temos acompanhado, desde lá até agora, todo movimento sindical. Eu perguntaria ao Lula: quais as perspectivas que ele vê de 62 até os dias de hoje na evolução do movimento sindical dentro da dinâmica do movimento político brasileiro?
- Eu teria que fazer uma certa divisão do movimento sindical antes de 64 e após 64. É um ponto de vista muito pessoal; eu acredito que o movimento sindical antes de 64 foi muito usado politicamente, fazia-se talvez muita politicalha em vez de defender realmente a categoria. Após 64 surgiram alguns dirigentes sindicais, dentre os quais eu quero me incluir, que não têm compromissos políticos com quem quer que seja e que estão pura e simplesmente dispostos a qualquer sacrifício para a defesa da classe trabalhadora que eles representam.

- Eu estou achando que, por enquanto, você se manteve no nível do sindicato verbal. Quer dizer: está falando muito mas fazendo pouco, ou seja, xingar o regime atualmente todo mundo faz, inclusive o Magalhães Pinto. Nesse sentido, você se aproxima dele. Então eu queria saber o que você tem feito realmente para ativar alguma coisa ao nível do sindicato, ou seja, que tipo de atuação você acha que se possa ter na atual estrutura sindical?
- Eu acho que a pessoa que fez essa pergunta cometeu um equívoco; querer comparar o movimento sindical atuante eu poderia citar alguns companheiros de Belo Horizonte, de Porto Alegre, do Rio de Janeiro e mesmo de São Paulo - com a atuação de hoje, do senador Magalhães Pinto. Eu acho que a coisa mais importante na vida do homem é ele vender idéias, e existem os aceitadores, os compradores dessas idéias. Eu acredito até que, não o Sindicato de São Bernardo, mas a categoria metalúrgica de São Bernardo do Campo e Diadema tem dado uma demonstração ao Brasil de que não é difícil unir a classe trabalhadora e de que a classe trabalhadora, acreditando na força que tem, pode conseguir sua liberdade.

- Lula, a pergunta tinha uma avaliação implícita. Você está falando muito e fazendo muito pouco.
- Eu acho que falando já estou fazendo muito. Há milhares de dirigentes sindicais que nem isso fazem. Eu quero é que todos falem um pouco. E a partir do momento em que todos falarem um pouco, que todos venderem suas idéias, eu acredito que a classe trabalhadora marchará para uma vitória que será irreversível.

- E as greves recentes, como em algumas indústrias de automóveis e caminhões, são devidas à sua fala ou a alguma coisa mais?
- Eu espero que os ouvintes julguem isso. Eu acredito que as greves surgidas em algumas empresas de meu setor e em outros setores são conseqüência do sufoco em que a classe trabalhadora se encontra. Todo trabalhador, quando sente seu estômago doer, quer se libertar daquela dor. É aí que acontecem as greves.


- Por que a classe metalúrgica não participou das reuniões do sindicato?
- É muito difícil analisar hoje, por que o trabalhador não participa das assembléias do sindicato. Recentemente recebi a visita de companheiros de outros países, e citaria um país muito avançado em termos sindicais, a Suécia. E o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Suécia me dizia que nas assembléias deles também não comparecem mais do que 1500 ou 2000 trabalhadores. Acontece que não devemos ver salvação do sindicalismo brasileiro ou da classe trabalhadora na quantidade de trabalhadores, mas numa minoria de trabalhadores conscientizada, num grupo de trabalhadores que, unidos, chegam a um consenso de coordenar uma luta de classes. E aí teríamos a participação de toda a classe. Agora, está mentindo quem disser que só irá fazer um movimento da classe trabalhadora quando tiver todos os trabalhadores no sindicato. Mesmo porque não existe nenhuma sede de sindicato que tenha um salão onde caibam mais de 3000 pessoas. Então, nós devemos selecionar um grupo de trabalhadores conscientes, prepará-los e, a partir daí, soltá-los dentro das fábricas para que eles comecem afazer o sindicalismo dentro delas, pois é lá que nasce o autêntico sindicalismo.


- Eu não sou sindicalizado porque eu entro às 15 para as 8 e saio ás 5 e meia todos os dias. Eu não tenho tempo. Aos sábados eu trabalho quase a mesma coisa. Eu não tenho para nada. Aos domingos o sindicato não funciona. Mas eu gostaria de ser sócio do sindicato.
- Igual a esse companheiro existem centenas e milhões de companheiros. Não ficam sócios do sindicato porque não têm tempo de ir ao sindicato. Porque o horário de trabalho não permite que ele freqüente o sindicato. Mas eu dou um conselho a esse companheiro: fique sócio do sindicato da categoria à qual pertence, pois o sindicalismo não é feito dentro da sede do sindicato, nem no gabinete médico, nem no odontológico. Sindicalismo é feito dentro da fábrica, na seção ou até mesmo no pé da máquina.

- Eu queria saber por que o aumento de 40% que a gente esperava em relação ao ano passado, não veio.
- Eu acho que a pergunta deveria ser feita ao presidente da República, que é quem decreta os reajustes de salário. Por parte do sindicato, eu sei que às vezes há até um mal entendido. Nós tentamos mostrar à classe trabalhadora, que eu represento, que tudo o que foi feito até hoje em termos de política salarial é uma farsa, é mentira, porque os sindicatos estão apenas encobrindo uma política salarial que não permite, em nenhum instante, que o sindicato consiga alguma coisa a mais para os trabalhadores. Já tivemos assembléias no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo em que nós rejeitamos até proposta de 2% a mais da classe empresarial, por algumas conquistas que nós entendíamos mais válidas do que 1 ou 2%. E o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo já esperava 39 ou 40%, porque ninguém sabe como o Ministério do Trabalho faz para encontrar o fator de reajuste. E o Sindicato de São Bernardo continuará mostrando aos trabalhadores que, enquanto não houver possibilidade de negociação direta entre trabalhador e empregador, enquanto o governo continuar com essa política salarial rígida, inflexível, a classe trabalhadora não saberá quanto irá receber de reajuste, e tampouco ela receberá aquilo que equivale ao aumento do custo de vida.

- Como o trabalhador calcula quanto ele deve receber de reajuste ? Tem algum economista ajudando a fazer esse cálculo?
- Temos como fonte de informação o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), que nos fornece quanto deveríamos receber para que nos equiparássemos, pelo menos, ao aumento do custo de vida. Mas o DIEESE, como muitas entidades que pesquisam o custo de vida, não é levado em consideração. Existe um grupo de economistas no Ministério do Trabalho que dizem que fazem pesquisa em 14 capitais do Brasil e que chegam a um denominador comum, ou seja, esse ano chegaram a 39% no mês de abril. E aí a gente começa a reparar as falhas, a ver os erros da política salarial. Em São Paulo, segundo o DIEESE, o aumento do custo de vida foi em torno de 43% e a Fundação Getulio Vargas calculou que em Belo Horizonte o aumento do custo de vida foi de 65% . E, em abril, os trabalhadores de São Paulo e Belo Horizonte tiveram seus salários reajustados em 39%. Daí é fácil a gente perceber a falha da política salarial, porque os companheiros de Belo Horizonte poderiam pelo menos receber, no mínimo, 60% para fazer frente ao aumento do custo de vida.


- Lula, gostaria de saber se o salário mínimo vigente no país condiz com a condição do aumento do custo de vida. - Por que o custo de vida aumenta mais do que o salário? - Porque o sindicato nunca consegue alcançar os aumentos que ocorrem sobre os alimentos? - Só quem vive do salário mínimo poderia imaginar que Cr$ 1.560,00, hoje, consiga viver. Ele pode quando muito vegetar. E o sindicato não consegue mais aumento para o trabalhador exatamente porque o trabalhador pensa que o sindicato é a diretoria do sindicato. Eu gostaria de dizer ao companheiro que me fez essa pergunta que ele precisa começar a entender que o sindicato nada mais é do que a união da classe trabalhadora, e que não espere da diretoria que ela faça milagres. Mas são os trabalhadores que têm que, não de fazer milagres, mas de lutar dentro da empresa com seu empregador, para conseguir melhores condições de vida, melhores condições salariais.

- Lula, você acha que o nosso governo vai solucionar facilmente o problema da inflação?
- Eu acho que o problema da inflação no Brasil é um problema sem solução, porque quando houve a Revolução em l964 o grande problema já era a inflação. Essa inflação continuou galopante. Criou-se uma política salarial em l965, para ter uma vigência de três anos, com a finalidade de conter a inflação. Essa política salarial está em vigência até a data de hoje e a inflação não foi contida. É uma demonstração viva de que os governantes brasileiros, quando culpam os salários pela inflação, culpam erradamente, porque quem causa a inflação, está mais do que provado, não é o salário. E se o nosso governo vier com a mentalidade de conter os salários para conter a inflação, eu quero dizer ao ilustre companheiro que nós iremos ter inflação galopante por muito tempo. Enquanto não se tentar coibir os abusos do tal open-market, do over-night, eu acho que a inflação continuará por muito tempo.

- Luís Inácio, seria possível você tentar junto às autoridades do governo o reescalonamento dos subsídios e das antecipações salariais, ou seja, em maio, por exemplo, os metalúrgico têm antecipação de 10 ou 12%.(pto.e vírg.) por que não tentar o reescalonamento, não em duas vezes, mas em três ou quatro vezes, para acompanhar o aumento do custo de vida que estamos sofrendo?
- Esta é uma briga que o sindicato de São Bernardo comprou há algum tempo, é uma briga na qual nosso sindicato, lamentavelmente, tem ouvido algumas negativas do governo, nem sempre convincentes. Há um reajuste uma vez por ano e há uma antecipação – que fica muito a cargo da benevolência de algumas empresas – seis meses após o dissídio coletivo. O sindicato de São Bernardo tem brigado e falado, e o trabalhador é testemunha de que nós estamos pedindo há muito tempo o salário móvel . E o que seria o salário móvel ? Seria o trabalhador não ter seu salário defasado durante 12 meses, para depois receber o reajuste – ou trimestral ou mensal – cada vez que aumentasse o custo de vida, se o trabalhador tivesse a recuperação de seu salário, talvez ele não fosse como é hoje, um grande perdedor dentro da vida brasileira.

- A gente tinha antigamente um adiantamento salarial, uma antecipação, melhor dizendo, e hoje em dia não temos mais isso. Então, seria muito importante lançarmos uma campanha junto ao povo, em que o povo participasse realmente – em especial o Sindicato dos Metalúrgicos, o dos gráficos e outros sindicatos importantes – para que o povo tivesse oportunidade de readquirir o direito de receber salário adiantado, ou antecipação. Isso seria importante porque, enquanto o custo de vida sobre uma enormidade, a gente tem de esperar aquela data X do aumento intersindical.
- Não sei se este companheiro trabalha em São Bernardo. Parece que ele não trabalha lá. Em São Bernardo do Campo as empresas dão antecipação. Isto já é praxe. Mesmo antes dos abonos de emergência decretados pelo governo em l968 e l974. Nós, em São Bernardo, temos um problema muito difícil> enquanto o restante dos trabalhadores deixaram de ganhar alguma coisa com a política econômica rígida do governo para com os trabalhadores, nós, em São Bernardo, não só deixamos de ganhar alguma coisa, como estamos perdendo aquilo que já tínhamos até l974. Eu poderia citar alguns exemplos: o trabalhador de São Bernardo do Campo tinha, principalmente da indústria automobilística, três, quatro aumentos fora o dissídio coletivo; depois da propalada crise do petróleo – eu procuro chamar isso de ‘depois da crise das contenções das despesas das empresas’, uma contenção que redundou em rebaixamento salarial - nós trabalhadores de São Bernardo começamos a perder bastante. Mas também quero avisar o companheiro que o problema não é categorias isoladas brigarem. Eu acho que é um problema de toda a classe trabalhadora, independentemente da categoria da qual cada um faz parte. A antecipação a empresa só dá... E eu quero deixar bem claro ao companheiro trabalhador que nenhum empresário vai dar aumento apenas porque ele quer, mas, isto sim, dar aumento pro trabalhador quando ele exigir. E eu acho que é o momento de a classe trabalhadora brasileira começar a exigir aquilo que é dela, ou seja, o direito de ganhar melhor, de viver com dignidade.

- Mas Lula, no caso dos metalúrgicos, não houve um benefício da classe quando o modelo econômico brasileiro privilegiou o desenvolvimento da indústria automobilística e, û, daqueles que dependem dessa indústria, no caso os metalúrgicos?
- Poderíamos chamar de benefício pura e simplesmente o fato do emprego, se é que podemos chamar de benefício. Mas nós precisamos saber talvez até os malefícios que vieram depois disso. E aí eu gostaria que cada trabalhador da indústria automobilística julgasse se, além do emprego que foi dado pela indústria automobilística, ele ganhou alguma coisa mais. Porque se ela não viesse, viriam outras indústrias, talvez até viessem indústrias do eixo de caroça, mas viriam indústrias e os trabalhadores iriam trabalhar, ou talvez fossem trabalhar no campo e, ao invés de produzir automóvel, eles produzissem alimentos, que é aquilo de que realmente o mundo está carente.

- É, mas nesse sentido, como é que você compara as condições de trabalho daquele que está no meio urbano e daquele que está no meio rural?
- Eu acho que a situação está ruim para os dois lados. E pior para o trabalhador do meio rural, exatamente porque se deu preferência a uma certa atividade, no nosso caso, ao setor automobilístico, esquecendo de uma vez por todas o meio rural. Mas eu acredito que, a médio prazo, o trabalhador rural irá exigir uma reforma agrária que dê terra para o trabalhador e meios para ele possa produzir e viver com respeito, cuidando de sua família talvez até melhor do que o trabalhador do meio urbano.

- Lula, o que você acha do salário do menor?
- O atual ou o que virá O atual já não representa aquilo que o menor deveria ganhar. Nós deveríamos dividir o menor em dois tipos de trabalhador. Um que trabalha na produção e que produz tanto quanto um adulto (pto.virg) e outro que é admitido na empresa como aprendiz. Na atual legislação, esse aprendiz recebe um pouco menos do que o salário mínimo. Agora, o governo vir com o argumento de que para acabar inclusive com os trombadinhas tem de reduzir o salário para que as empresas possam dar mais emprego, para nós, do Sindicato de São Bernardo Campo e Diadema, isso não cola.
- Seu Lula, o problema do menor abandonado é grave no Estado de São Paulo, nas grandes cidades. Na sua opinião, qual seria a medida exata para resolver esse problema ? - Raimundo Faoro, presidente da Ordem dos Advogos do Brasil) Tendo em conta o grande e alarmante número de menores carentes e abandonados no Brasil, quais as medidas que pretendem os sindicatos reivindicar para estabelecer condições de salário e de aprendizagem dos menores ?

- Eu acho essas perguntas totalmente idênticas. Primeiro que se dê ao trabalhador um salário digno. Segundo, que se dê recreação ao trabalhador e aos seus filhos, se dê áreas de lazer, escolas a todos, que acabarão os menores chamados de marginais, os menores abandonados. Quanto à segunda pergunta, eu acredito que a maior briga que o sindicato pode levar adiante para acabar com os menores abandonados... eu acredito que só alguma pessoa com tendência diabólica pode abandonar um menor; os menores que estão aí abandonados, é por falta de condições da família tratar dele, por falta de condições do pai ou da mãe para dar uma vida normal a esse menor. Isso só será resolvido a partir do a partir do momento em que o Estado assumir a responsabilidade de dar possibilidade para que cada família possa criar os seus filhos. E o sindicato pode lutar muito para que o trabalhador tenha um salário digno e para que cada chefe de família possa sustentar o seu filho evitando assim que ele venha a ser um menor abandonado.

- Qual a lei que falta para proteger o menor trabalhador, Lula ?
- Eu acho que a lei que falta para proteger o menor trabalhador é a contratação coletiva do trabalho, onde o sindicato, representando os trabalhadores e após uma decisão da categoria, pudesse negociar as condições de trabalho, as condições de salário, não para o menor, mas para todos os trabalhadores, sem distinção de sexo, de cor, de idade. E é a partir daí que eu vejo que a contratação coletiva do trabalho viria sanar todos os problemas, ou pelo menos 98% dos problemas existentes hoje para a classe trabalhadora.




- (Jorge Maluly Neto, ex-secretário do Trabalho de São Paulo) O que você pensa, quais são as suas teses sobre uma mudança do movimento sindical, não apenas em São Paulo, mas do movimento sindical brasileiro?
- Eu tenho provado com atos a necessidade de uma mudança tanto sindical, como empresarial, como governamental. Há uma mentalidade criada pelos empresários, pelo governo, de que o trabalhador e o causador de grandes prejuízos, porque o trabalhador é culpado pelo salário, e o trabalhador que precisa de educação..., porque o trabalhador precisa de escola e uma série de coisas. E os empresários acham que o salário do trabalhador é que causa prejuízos a eles. Os próprios dirigentes sindicais são culpados por isso porque, na sua grande maioria, não se dispõem a conversar, não se dispões a ser ais sinceros consigo mesmos, pra que, quando se encontrarem com uma autoridade, possam dizer a verdade, dizer o que a classe está passando e não ficar dando tapinhas nas costas das autoridades. Mas eu precisava deixar claro ao secretário de Relações do trabalho, ou melhor, ex-secretário, porque já se afastou, que a classe trabalhadora está bem mais preparada do que a classe empresarial. Falo isso convicto, porque estive conversando com dezenas e dezenas de empresários; falo isso convicto porque tenho conversado com dezenas e dezenas de autoridades, e falo isso convicto porque tenho conversado com milhares de trabalhadores. E se hoje existe nesta terra alguém preparado para o diálogo, esse alguém, não tenha dúvidas, Sr. Secretário, é a classe trabalhadora, que é honesta, responsável e que, acima de tudo, e patriota, que ama essa terra mais do que ninguém.

- Há cerca de um mês, 15 operários da Mercedes, isso foi em abril, entraram em greve, inclusive conseguiram realizar uma assembléia com cerca de 400 operários. Você não reconheceu a atitude deles, dizendo que o movimento se realizou fora do sindicato. Queria saber por quê.
- Eu acho que a pessoa que fez a pergunta está mal informada ou é daquelas de oposição sindical bem radicais, que às vezes não querem sequer usar pelo menos um mínimo de bom senso. Me desculpe, mas primeiro o sindicato não deixou de levar em consideração, em nenhum momento (o movimento dos operários da Mercedes). Apenas o que houve é que pelo cadastramento do movimento sindical, os trabalhadores fazem muitos movimentos à revelia do sindicato, o que eu acho até válido, porque a partir do momento em que for ao sindicato, o sindicato estará atrelado e terá que cumprir a lei e aí fica difícil ao trabalhador conseguir alguma coisa. Mas o que houve na Mercedes é que um grupo de trabalhadores esperava um reajuste naquele mês, não veio o reajuste, os companheiros pararam, estavam até organizados porque pararam todos, e 17 foram dispensados. O sindicato fez duas reuniões com a empresa, há perspectiva de reajuste para todos os trabalhadores e em nenhum instante o sindicato deixou de proteger esses trabalhadores. O que houve, isso sim, é que, pelo fato de o sindicalismo brasileiro de hoje estar desacreditado, o sindicato convocando não duas mas quatro reuniões de trabalhadores, nós tivemos lá por volta de 400 ou 500 trabalhadores. E não tenha dúvidas a pessoa que fez a pergunta, que uma das tônicas das discussões era nós sermos solidários com aqueles companheiros que tinham perdido o emprego. Mas, infelizmente, começamos a fazer reuniões e percebemos que começou a diminuir o número de companheiros que estavam participando. Mas o sindicato não estava desatento ao problema, mesmo porque vamos convocar novas reuniões, estivemos conversando com a empresa, estamos vendo se isso que a empresa está predisposta a discutir no momento – um reajustamento para o trabalhador – é verdadeiro. Porque se não for, o Sindicato de São Bernardo do Campo assumirá o seu papel e, se for necessário, até fazermos já paralisações solidárias a esses companheiros iremos fazer.

- Lula, você é o presidente do sindicato dos Metalúrgicos, portanto você representa a classe operária; eu vi você dando uma entrevista na televisão trajando um terno de colete, o que não representa um vestuário normal dos operários. Eu queria saber se você não ficaria melhor vestido num traje mais adequado à sua classe.
- Olha, essa pergunta foi motivo de uma briga minha com um grande jornalista, que acha que o trabalhador só tem que produzir, mas tem que andar miseravelmente, tem que comer mal porque aí é trabalhador autêntico, tem que estar como fome, senão não é trabalhador. Se dependesse de mim, se dependesse de minhas condições salariais, eu seria um trabalhador que andaria bem vestido, porque eu gosto de andar bem vestido. Eu não quero usar as palavras do Joãozinho Trinta, mas, realmente, miséria não é para a classe trabalhadora, porque a classe trabalhadora não gosta de miséria. Eu não queria dar a fonte onde tinha comprado o meu terno com colete, mas eu preciso dizer a meu companheiro que o meu terno custou Cr$ 1.750,00, e eu o comprei na cooperativa da Volkswagen, quando nem tinha direito de comprar, foi um companheiro que comprou para mim. Agora, eu peço até a Deus que num futuro bem próximo, todos os trabalhadores possam por terno e colete, pois acho que o trabalhador tem que ter tudo aquilo que ele produz até automóvel. Se o trabalhador produz, não é para a classe média usar, não é para os tubarões usarem, mas é para ele próprio trabalhador usar. Então eu acho que é um direito de termos, de possuirmos tudo aquilo que nós trabalhadores produzimos, porque senão nós iremos apenas produzir, iremos apenas vestir os outros, iremos apenas fazer os outros verem televisão a cores, iremos apenas fazer os outros nos atropelarem de automóvel, quando somos nós que produzimos, quando somos nós que construímos casas e para ser trabalhador autêntico, segundo a concepção deste companheiro, nós deveríamos morar em favelas. Ora, eu acho que a autenticidade do trabalhador não está na mendigagem dele em se vestir. Eu fui fazer uma reportagem para um jornal e fui com uma camiseta de João Ferrador; então, lá eu fui considerado autêntico porque estava mal vestido. Talvez se eu fosse de terno e colete, não fosse considerado autêntico. Eu acho que a autenticidade da pessoa não está no traje, mas nas idéias, nos atos que tenho dado demonstração de que se não tenho sido mais autêntico, é porque eu não sei ser mais autêntico, mas estou convicto de que sou honesto para com a classe que represento, de que tenho dado de mim o máximo que posso dar e em nenhum instante seria um paletó ou um colete que iria mudar as minhas atitudes para com os trabalhadores.

- O movimento estudantil constantemente coloca a necessidade de uma união entre os operários e os estudantes. Então eu auero saber como os estudantes podem se integrar ao movimento operário.
- Sem querer ofender nossos estudantes – talvez o meu grau de cultura, eu só tenho o curso primário, tenho o curso ginasial eliminado na base de fazer X, eu não aprendi muito, eu só tenho curso de torneiro mecânico, talvez essa minha desinformação é que me leve a ser assim – mas eu acho que a melhor maneira de os estudantes ajudarem a classe trabalhadora seria eles ficarem dentro das universidades.

- E o queria perguntar para o Lula o seguinte: a gente vê hoje vários setores da sociedade se mobilizando na campanha da anistia. Eu queria saber do Lula, enquanto líder sindical, enquanto líder operário, como é que ele acha que os operários devam participar desta campanha pela anistia, de que forma os operários devam participar, e se existe uma preocupação pela anistia dos operários que foram cassados, banidos em 68, por exemplo, o José Ibrahim que participou da greve de Osasco, em 68.
- De sã consciência, nenhum brasileiro hoje pode ser contra a anistia. Eu acredito que o trabalhador também é a favor da anistia, não só dos líderes operários que estão fora. E eu até gostaria de contestar o companheiro, no sentido de que eu não gosto que me chamem de líder, pois eu não sou líder. Se eu fosse líder, comandava a minha classe para fazer o que bem entendesse. E nós sabemos que aqui no Brasil ninguém lidera nada. Eu gostaria de ser chamado de dirigente sindical, porque não me considero líder. Quanto à anistia, eu entendo que todos devem ser a favor da anistia. Mas há de se entender também que existe uma anistia para a classe trabalhadora de que ninguém tem falado. Eu acho que a classe trabalhadora está realmente precisando de uma anistia, porque ela é a grande prisioneira nessa terra. Um trabalhador que levanta às 4 horas da manhã e chega em casa às 8 da noite está precisando de uma anistia, sabe, para ele poder ter uma vida um pouco melhor. E tem pouquíssima gente se preocupando com esse tipo de anistia. Sou a favor da anistia, mas me preocupa muito mais uma anistia para a classe trabalhadora, que é realmente a grande sofredora, eu não diria só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo.

- Como você vê a discriminação da mulher trabalhadora?
- Existe. Existe e foi denunciada no Congresso da Mulher Trabalhadora, que nosso sindicato realizou entre os dias 21 e 28 de janeiro. Existe discriminação porque as próprias mulheres a denunciaram. Por parte do sindicato, nós esperamos nunca mais realizar um congresso de mulheres, porque esperamos acabar com este tipo de discriminação, convocando então um congresso de toda a categoria metalúrgica, com a participação de homens e mulheres. Dentro da fábrica existe discriminação da mulher. Não existe nenhuma fábrica, por exemplo, em que não haja chapinha ou fichinha que a mulher deve pedir ao chefe para ir ao banheiro. Para o homem não existe, mas para a mulher existe fichinha. A mulher faz o mesmo serviço do homem e não ganha o mesmo salário do homem, quando a Constituição proíbe isso. Isso está provado, quem quiser constatar é só ir ao sindicato examinar algumas carteiras profissionais, é só ir na porta das fábricas e conversar com as mulheres trabalhadoras. Existe discriminação no tratamento da chefia para com a mulher, desde cantada de chefe, até a persuasão, a coação para que a mulher produza muito mais, porque a mulher foi criada, doutrinada, massificada, convencida de que ela faz parte do sexo fraco. E se ela faz parte do sexo fraco, não pode brigar com o chefe. E há algumas denúncias até engraçadas. Outro dia uma mulher me procurou e disse que lamentavelmente ela era mulher e não podia partir a cara do chefe dela, porque se ela fosse homem, esperava o chefe na rua e lhe partia a cara, de tanto que esse elemento que tem um cargo de chefia perturbava ela, forçando-a a trabalhar e produzir muito mais do que o permitido pela capacidade física dela.

- Eu gostaria de saber qual a sua impressão sobre o novo governador Laudo Natel.
- Eu não tenho impressão sobre o novo governador, mesmo porque eu não tive nenhuma participação na sua escolha. No dia seguinte ao da escolha do novo governador, eu disse que, pelo menos para mim, ele não tem nenhum compromisso com a classe trabalhadora, porque ele não foi escolhido pela classe trabalhadora. Ele tem compromissos, isto sim, com as pessoas que o escolheram para ser governador do Estado de São Paulo. Eu não acredito que o senhor Laudo Natel venha a fazer muita coisa pela classe trabalhadora. Ele já foi duas vezes governador e pouco fez pelos trabalhadores. E não será desta vez que ele irá fazer alguma coisa. Salvo se a classe trabalhadora estiver preparada para exigir do governador tomadas de posição que a beneficiem.

- (Presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis) Haveria condições de o seu sindicato, através de pesquisa, nos informar o percentual de associados que deixam de adquirir a casa própria por dificuldade de comprovação de renda, nos termos exigidos pelo BNH?
- Eu não sei se é um político que fez a pergunta, mas se for político, acho bom que ele vá até o Sindicato de São Bernardo ou até a porta das fábricas ver se o trabalhador realmente tem condiçõees de comprar casa do BNH.

- (Direção do programa) Ele não é político. É o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis.
- Então eu preciso informar a ele que hoje o trabalhador metalúrgico de São Bernardo do Campo que ganha até dez salários mínimos está praticamente impossibilitado de comprar uma casa pelo Sistema Financeiro de Habitação. Isto porque em São Bernardo, qualquer metro quadrado de terra, em qualquer lugar, custa Cr$ 20.000,00. Então, a grande verdade que esse presidente do Sindicato de Corretores de Imóveis deve saber é que o BNH está usando o dinheiro do trabalhador em prejuízo do próprio trabalhador, causando a especulação imobiliária e impossibilitando o trabalhador de, nos grandes centros urbanos, ter sua casa, porque o salário dele não permite comprar. E eu gostaria de citar um exemplo, de mostrar o milagre sem dizer o nome do santo. Uma determinada empresa, preocupada em resolver o problema habitacional de seus trabalhadores, resolveu construir casas para eles. E veja, senhor presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis, como a coisa é drástica. Essa empresa está vendendo casas aos trabalhadores com uma metragem de 36m2, incluindo quintal. E para comprar essa casa, o trabalhador tem que ganhar mais de Cr$ 6.200,00. E de 70% a 80% da nossa categoria não ganham isso. Então, veja por que em São Bernardo do Campo existe hoje um cinturão negro de barracos com trabalhadores especializados morando em favelas porque na podem pagar aluguel e tampouco comprar uma casa.

-O que você acha da atuação da Igreja nos movimentos de massa ?
- Eu respeito muito a Igreja. Uma vez eu declarei a uma revista que a Igreja estava cumprindo o papel de quem estava com remorso. Ela tinha ficado parada durante muito tempo e agora surgiu como a grande salvadora da classe trabalhadora. Quando eu disse isso eu não quis atacar, eu não quis agredir determinadas pessoas realmente dispostas a lutar em benefício da classe trabalhadora, ou tentar pelo menos trabalhar na arregimentação da classe trabalhadora. O que eu acho, e isso eu ainda preciso discutir com determinadas pessoas, é que não podem ser criados movimentos paralelos ao movimento sindical, pois isso prejudica a classe trabalhadora. Eu acho que tudo deveria ser canalizado através dos sindicatos. Se o sindicato não funciona, que os trabalhadores façam o sindicato funcionar, expurgando de lá os maus dirigentes sindicais. Eu acho que existem algumas pessoas de extrema validade dentro da Igreja, mas, sinceramente, sob pena de não agradar a muita gente, eu acho eu a Igreja tem um pouco de responsabilidade pela situação que a classe trabalhadora vive hoje. E só por isso que eu não vejo a Igreja como salvadora da classe trabalhadora.


- Eu gostaria de saber o que você acha das Brigadas Vermelhas, e da morte de Aldo Moro.
- Eu sou contra qualquer tipo de radicalismo, eu acho que não é matando pessoa que nós vamos encontrar as soluções para os nossos problemas. Não conheço os problemas políticos da Itália que levaram ao surgimento das Brigadas, mas eu acho que elas não deveriam existir, porque é lamentável que, sendo só Deus que tem o direito de tirar uma vida, grupos que falam em defesa de não sei quem, procurem matar pessoas querendo salvar assim uma nação. Não aceito que existam esses tipos de grupo, mesmo porque radicalismo gera radicalismo. Enquanto eles estão matando um, os outros vão querer matar a eles e isso vai acabar numa grande matança, o que não traz benefícios a ninguém. Eu acho que os homens podem resolver os problemas deles conversando, mas sem partir para a morte, que é um direito que cabe só a Deus.


- (General Dilermando Gomes Monteiro) – Como comandante do II Exército, um dos problemas que muito me preocupam é o da segurança, portanto, da possibilidade de infiltração de ideologias extremistas, como é a ideologia comunista, no seio do operariado, Isso é uma preocupação de todos nós. E eu gostaria de saber como o Lula vê a possibilidade de impedir que haja essa infiltração nos sindicatos operários.
- Eu sou contra o radicalismo tanto de esquerda como de direita. Eu acho que o radicalismo não leva a nada. Agora eu queira dizer ao general Dilermando, comandante do II Exército, que a associação do meu sindicato é livre e eu não consigo identificar quem é de extrema direita e quem é de extrema esquerda. Mas eu gostaria, isto, sim, que o comandante do II Exército nos ajudasse a brigar pela liberdade sindical, e me desse o direito, não só a mim mas a todos os dirigentes sindicais que não têm compromissos ideológicos, de lutarem contra qualquer um dos dois extremos.

- (Direção do programa) - Lula, você, a partir das respostas deste programa, não se considera um candidato Porque você se comportou como um candidato.
- Não, eu acho que tive a minha candidatura lançada em outubro do ano passado, nas eleições do sindicato, e eu ganhei as eleições, mesmo porque não houve uma chapa de oposição. Não sou candidato, não sou filiado a partido político, não tenho intenção de me filiar, não tenho intenção de ser candidato, embora alguns companheiros amigos até benevolentes, achem que eu seja um grande candidato. Mas não sou candidato realmente, não tenho interesse. O meu interesse por enquanto é fazer um trabalho sério na frente do sindicato, com a ajuda da diretoria, que é muito séria; isso é muito mais importante para o trabalhador do que eu ser candidato.



(*) Após as entrevistas,  vêm os discursos de Luís Inácio. Em um deles, veremos o sindicalista convencendo os operáros a perder boa parte de seu salário para manter uma greve que durou mais de um mes e prejudicou os 'trabalhadô', que, segundo ele, têm muito a perder como assalariado, ao contrário dos estudantes.






2 comentários:

Marcos Pontes disse...

"Eu acredito e quero crer que o que falta para nós, trabalhadores é saber escolher nossos representantes "
Nesse ponto ele tem razão, o trabalhador brasileiro continua votando mal.

Jurema Cappelletti disse...

Marcos, o pior é que não vejo um único nome em quem confiar. Por isso a idéia que estão lançando sobre a candidatura do General Heleno (como cidadão, não como militar) me atrai tanto.

Ju