quarta-feira, 4 de março de 2009

Quinta Entrevista - Folha de São Paulo / 78

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4 de junho de 78

O que podemos observar na entrevista abaixo:
1 – Luís Inácio admite e aprova a ilegalidade Ao dizer que “O ato de ela ter sido julgada ilegal já perdeu o valor, porque o trabalhador a tornou legal, a partir do momento em que a praticou”. Nesta frase demonstra sua falta de seriedade. Pensar que a prática de algo ilegal o torna legal, é uma deformação de valores, é o desprezo pelo certo ou errado. Isso é confirmado logo abaixo quando afirma que “Se o trabalhador ficasse estudando a lei de greve, jamais faria a greve.”
2 – Mente, se esquiva da responsabilidade e evita respostas diretas ▪ Não assume a greve que instigou ao recusar a participação no último dissídio salarial. Como de hábito, joga a responsabilidade da resposta para os outros : “ Quem acompanhou o sindicato ... pode fazer um julgamento melhor do que eu.”) ▪ Diz que o sindicato não declarou a greve, mas admite que procurou “levar mensagens ao trabalhador, fazendo com que ele sentisse a necessidade de chegar às paralisações”. ▪ Comenta sobre a necessidade da criação do fundo desemprego, se escuda em outros países que já têm tal recurso e responde de maneira dissimulada sobre o seu objetivo: “quem sabe, ele sirva até para a sustentação de uma greve”.
3 - Dá a nós, cidadãos, uma lição quando afirma que se nós não temos força para exigir, precisamos nos fortalecer para poder exigir; ao dizer que é possível chegar a uma organização para defender aquilo que é nosso; comenta sobre a necessidade de união para brigar.
4 – Luís Inácio elogia o governo na época que não interferiu na luta entre trabalhadores e empregadores: “ Foi uma posição acertada, deixar que trabalhador e empregador resolvessem seus problemas.”. No entanto, como presidente, quer interferir na necessidade de algumas empresas demitirem funcionários por causa da crise econômica mundial.

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Dez anos depois da greve de Osasco, em l968, a tensão a que chegara a classe trabalhadora era maior do que os estreitos limites da legislação trabalhista imposta pelo poder. E as máquinas começam novamente a parar. Desta vez são os metalúrgicos de São Bernardo que, não suportando mais 15 anos de arrocho salarial, reiniciam a luta por reajustes que reponham o poder aquisitivo perdido. E os donos do poder, já esquecidos de que a classe trabalhadora existia, tiveram que admitir que ela “é parte viva da nação e, como conseqüência disso, ela tem que ser respeitada”. É essa greve de l978 que Lula analisa nesta entrevista. Dado o significado desta greve no movimento operário brasileiro, a análise feita por Lula reveste-se de particular importância. Ele fala da participação do sindicato na greve, das lições que tirou dessa participação, do exemplo que o trabalhador deu à nação da necessidade de um fundo de greve, etc. Mas, sobretudo, mostra que este fato representou um marco na abertura da política sindical, pois a partir daí e depois de muito tempo, operários e patrões passarão a sentar juntos à mesa de negociações, “quebrando uma barreira da política salarial do governo”.

- Você disse várias vezes que “chegará o momento em que a classe trabalhadora medirá forças com a classe empresarial”.  - Esse movimento deu provas disso?
- A única maneira de o trabalhador medir forças com a classe empresarial é com a paralisação. Eu, que mantive contato com vários empresários senti a diferença do comportamento deles antes e depois da greve; é muito mais fácil negociar com os empresários com as máquinas paradas.


- O que você achou do comportamento dos trabalhadores dentro das dentro das fábricas durante a greve? - O trabalhador deu uma boa demonstração de que greve não é baderna, deixando todo mundo perplexo. Mostrou que greve é um direito dele. O trabalhador deu demonstração de maturidade, parando sem fazer estrago algum.


- Nós não podemos dar um caráter anormal ao que aconteceu. A greve foi um fato normal. Foi uma manifestação da classe trabalhadora, que nada mais fez que, pura e simplesmente mostrar que ela existe, que é parte viva da Nação e, como conseqüência disso, e tem que ser respeitada. - Mesmo julgada ilegal você a considera normal? - Mesmo assim eu a considero normal, porque ela foi legítima. Talvez, por falta de hábito, muita gente viu a greve como algo anormal, fantástico. Na verdade, foi uma manifestação de uma classe, que tem como arma nas negociações, como força de barganha, a greve. O ato de ela ter sido julgada ilegal já perdeu o valor, porque o trabalhador a tornou legal, a partir do momento em que a praticou.


- O sindicato esperava por essas greves? - Não é de hoje que eu venho falando que as paralisações iriam acontecer. Apesar de o sindicato não ter decretado a greve, ele procurou levar mensagens ao trabalhador, fazendo com que ele sentisse a necessidade de chegar às paralisações. Quando estive como o senador Petrônio Portela, no começo do ano, fiz questão de falar que isso era irreversível, que uma tomada de posição como essa seria irreversível. Pra mim não nenhuma novidade.

- Quais as formas de atuação do sindicato nas greves? - São as que o de são Bernardo usou. Todas as vezes em que o trabalhador precisou do sindicato ele compareceu, negociando em nome do trabalhador. Por outro lado, eu acho que nós precisamos deixar de apenas criticar a estrutura sindical. Devemos partir pra fazer as coisas. O trabalhador deu o exemplo de que é preciso parar de fazer suposições e partir para a ação, e foi o que ele fez. Se o trabalhador ficasse estudando a lei de greve, jamais faria a greve.



- Quais os vínculos do sindicato com os trabalhadores? - Eu acho que a base é o sindicato. O sindicato nada mais é do que a classe trabalhadora. Esta base é que faz o sindicalismo ser bom e atuante. O que a diretoria deve fazer é coordenar a atuação de suas bases, com propostas nascidas dos próprios trabalhadores.


- A campanha pela reposição salarial, a recusa do sindicato de participar do último dissídio foram fatores que ajudaram a deflagração da greve? - Quem acompanhou o sindicato na campanha de desmascaramento do dissídio coletivo pode fazer um julgamento melhor do que eu, que estava dentro da coisa.


- Para você a greve foi uma surpresa? E a duração? - Os trabalhadores da Ford, que ficaram sete dias parados, deram uma seqüência ao trabalho que os companheiros da Scania começaram. Eu não sei por que a grande imprensa não falou com ênfase da Ford. Eu acredito até que foi pelo fato de nem o sindicato nem a empresa e envolverem de imediato nos problemas dos trabalhadores, mesmo porque os operários da Ford estavam muito conscientes do que estavam fazendo. A empresa tentou fazer pressão para o trabalhador voltar a trabalhar, e não conseguiu. A Volks, onde só os ferramenteiros pararam, chamou mais a atenção da imprensa do que o pessoal da Ford. Na Volks houve muito mais atrito entre trabalhadores e empresa, e na Ford não ouve isso. Greve é uma coisa muito simples de fazer, é só desligar as máquinas, sem provocar ninguém ou obrigar a presença da polícia. Do jeito que os trabalhadores da Ford e da Scania se comportaram eu estava tranqüilo de que ninguém iria botar as mãos neles.


- Qual a lição que o sindicato tirou entre uma paralisação e outra? - O que deu para notar foi a falta de diretores. Às vezes estouravam quatro problemas de uma só vez e não tinha quem mandar para quatro empresas diferentes. Por outro lado, o sindicato aprendeu uma lição: eu sempre preguei à categoria, que as empresas não agüentavam mais de quatro dias paradas, e que com quatro dias paradas, elas todas se abririam para negociar. Mas eu percebi que, quanto maior a empresa mais ela agüenta. A Ford ficou uma semana, a Villares ficou o mesmo tempo parada, sem procurar o sindicato. E tem mais uma lição: a gente precisa criar o fundo desemprego. Ele faz parte do programa desta nova diretoria. Nós vamos tentar colocá-lo em prática o mais depressa possível.


- O fundo desemprego teria como objetivo a sustentação da greve? - O fundo desemprego existe em todos os países do mundo onde o sindicalismo é livre, onde é atuante, e, quem sabe, ele sirva até para a sustentação de uma greve.


- De onde sairia esse fundo? - Nós temos de criá-lo. Não podemos pedir a ninguém. Fica muito fácil a gente pedir. E muito difícil de realizar. O grande mal do sindicalismo brasileiro é exatamente este: querer criar o fundo desemprego; então, chega na época do dissídio e pede para as empresas uma participação no fundo. Se nós não temos força para exigir isso, precisamos primeiro nos fortalecer para poder exigir. Aí quem sabe a coisa comece a vir das empresas e até do governo. Nos fundos de desemprego que existem na França, na Alemanha, há a participação dos trabalhadores das empresas e do governo. Na Inglaterra, o fundo é gerado pelo trabalhador e pelo governo. Mas esse é um passo para mais tarde.


- Na sua opinião, o movimento foi completamente vitorioso? - Não, seria uma utopia da minha parte dizer que foi uma vitória completa, mesmo porque ao foi uma greve de toda a categoria.


- Poderia ter sido? - Poderia ter sido. O que atrapalhou foi o cerceamento do rádio e da televisão. O trabalhador escuta muito rádio, vê muito mais televisão do que lê jornais. Eu diria que foi uma vitória razoável para os trabalhadores que resolveram parar para conseguir alguma coisa. Em termos de abertura da política sindical, foi uma grande vitória. Significou sentar à mesa de negociação com os patrões, e eles, depois de muito tempo, assinaram um acordo, quebrando uma barreira da política salarial do governo.


- Qual foi o comportamento dos empresários desde o omeço da greve? - Os empresários, tanto os nacionais quanto os das multinacionais, continuaram intransigentes como sempre foram. Mesmo com as máquinas paradas, eles foram intransigentes .


- Como você compara o nível de organização dos empresários com o nível de organização dos trabalhadores? - Eu acho que os empresários estão muito mais organizados; aliás, como sempre estiveram. Podem ser concorrentes ou divergentes entre si, mas na hora de brigar com a classe trabalhadora os empresários estão sempre unidos. No momento, não dá para comparar a organização da classe empresarial com a da classe trabalhadora. Com esse movimento, a classe trabalhadora mostrou que é possível chegar a uma organização para defender aquilo que é seu. E quando a classe trabalhadora estiver preparada para parar em conjunto, ela vai ter chance de parar, porque os patrões irão negociar normalmente e não vão pagar para ver.


- Você recebeu apoio de sindicatos até do exterior. Que tipo de apoio recebeu dos sindicatos do Brasil? - Dos sindicatos de base nós recebemos bastante apoio. Mas de federações e confederações não houve nenhum. Quando muito, disseram que a greve era ilegal.


- Com a experiência que o sindicato de São Bernardo adquiriu nestes dois últimos anos, você acha possível a realização de um a convenção coletiva para o ano que vem? - Nós vamos preparar a classe trabalhadora para isso. Nós temos que preparar o trabalhador, se necessário for, até para parar as máquinas na época dos reajustes salariais. É possível chegar a uma convenção sem precisar parar as máquinas. Vai depender do bom senso da classe empresarial. O empresário sabe agora que o trabalhador faz greve.


- Como viu o comportamento do governo durante as greves? - Eu achei que o governo tomou uma posição política boa, salvo as notas dos ministérios da Fazenda e do Trabalho e alguns pronunciamentos de que a greve era ilegal. O governo praticamente não interferiu. Foi uma posição acertada, deixar que trabalhador e empregador resolvessem seus problemas.


 - Você esperava alguma manifestação dos políticos? - Eu nunca esperei. Quem está preocupado com os problemas dos trabalhadores é o próprio trabalhador.


- Muita gente achou que o sindicato deveria ter assumido a greve.
- É uma opinião que eu respeito. Entre o que a pessoa acha, entre o que eu acho e o possível, eu prefiro ficar com o possível.
 

Entrevista concedida a Júlio de Grammont






 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Entrevista ao Programa Vox Populi - TV Cultura / São Paulo


maio de l978





Esta entrevista evidencia que Lula é um embuste desde o início.  Logo na resposta à quarta pergunta Luís Inácio procura passar uma falsa humildade.  Na apresentação dão ênfase ao fato de Lula  deixar bem claro que não pretendia entrar para a vida política, quando ele sempre insinuou a necessidade de um partido político para os trabalhadores.   E nos mostra, principalmente,  quem foi o maior responsável pela criação da falsa imagem de Lula: a imprensa que lhe deu popularidade e hoje, ao  criticá-lo,  começa a sentir os efeitos do seu autoritarismo, o peso da censura que  procura calar quem o enalteceu e colocou  "no colo'  do povo.  

Ao responder à quinta pergunta, Luís Inácio diz "recentemente tive uma briga com a empresa e fui promovido a mestre júnior".  Estranho exigir promoção da empresa pois estava afastado da Villares há seis longos anos. Estranho também é perceber que, disfarçadamente, ele  sempre se refere ao sindicato como se falasse de si mesmo.   Aparentemente, os jornalistas  não percebiam fatos tão evidentes.  Preferiam
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Apresentação


A participação de Lula num programa de televisão, em maio de l978, revestiu-se de grande importância, pois, transmitida através do vídeo, sua imagem alcançou enorme projeção.  Embora suas idéias e sua atuação no movimento sindical já viessem sendo divulgadas pela imprensa, foi pela televisão que o grande público teve a oportunidade  não só de ver pela primeira vez a pessoa do Lula, como principalmente de tomar contato com seu pensamento e suas opiniões sobre o sindicalismo, a situação dos trabalhadores, o papel dos políticos, dos estudantes e da Igreja.


Reafirmando repetidamente seu compromisso com a classe trabalhadora, Lula, por um lado, deixou bem bem claro que não pretendia entrar para a vida política, e, por outro, afirmou que os operários poderiam criar seu próprio partido político.






- Boa noite, Luís Inácio da Silva, o Lula, dirigente sindical.
- Boa noite!


- Qual sua expectativa diante da iminência de encontro com a voz do povo?
- A expectativa de sempre.  Eu sempre fico na expectativa de que alguma coisa  que eu venha a falar possa ajudar a classe trabalhadora.


- Você poderia rapidamente traçar o seu perfil?
- Eu prefiro que vocês tracem o meu perfil.


- Como o senhor conseguiu chegar ao que o senhor é hoje no sindicato?
-Eu não sou nada no sindicato. Eu sou apenas um presidente do sindicato devido ao trabalho  de toda uma equipe e à compreensão de toda a classe trabalhadora me deu. Mas continuo torneiro mecânico, convicto de que amanhã voltarei para a firma em que eu trabalho e serei o torneiro mecânico que eu era antes de me afastar para o sindicato.


- Você ainda é torneiro mecânico?
- Eu sou torneiro mecânico e é a única coisa que eu sei fazer.  Recentemente  tive uma briga com a empresa e fui promovido a mestre  júnior, ganhando um pouco mais do que ganhava como torneiro mecânico, mas nunca fui mestre, sempre fui torneiro mecânico.

- Você ganha pela empresa ou pelo sindicato?
- Eu ganho pelo sindicato.   Existem duas formas receber quando se está ligado ao sindicato.  Alguns sindicatos recebem pela empresa.  Mas nós, em São Bernardo do Campo, recebemos pelo sindicato.

- Quanto ganhava pela empresa?
- Se eu voltar para a empresa, o meu salário será de Cr$ 15.00,00, o que eu ganho pelo sindicato.

- Gostaria de saber se você não acha que está sendo usado pela classe dominante na medida em que você aparece nas entrevistas da grande imprensa, nos jornais e aqui, no "Vox Populi".
- Eu sei lá... Aí fica para a interpretação de cada um.  Veja bem: o movimento sindical esteve adormecido durante muitos anos, e agora que acordou, surgem argumentos de que o sindicalismo está sendo usado pelo governo ou pela própria imprensa.  Mas o que eu quero deixar bem claro, e essa é minha convicção, é que se durante toda a sua existâencia o sindicalismo bfrasileiro adormecido não conseguiu resolver os roblemas da classe trabalhadora, eu espero que agora seja dada a oaportundiade a alguns dirigentes  sindicais qeestão acordados e estão entando resoler os problemas da classe trabalhadora.

- Com a popularidade de que desfruta no momento, você tem alguma pretensão política para o futuro?
- Não tenho pretensão política. Isto eu faço questão de deixar bem claro, eu  quero dizer que  que a única coisa que aprendi a fazer na minha vida foi ser torneiro mecânico, e estrou tentando aprender a ser um bom sdirigente sindical.  Não tenho jpretensões çpoliticos, não sou filiado a partido político e tenho certeza de jamais participaria da vida política, çporque eu não sirvo para político.

- Com a expressividade votante de seu sindicato 940.000 votos e as decantadas perspectivas de mudanças do quadro político-partidário, você não seria um candidato em potencial?
- Acredito que não. Em minha categoria há inúmeros trabalhadores com melhores condições de candidatura que eu. Eu acredito e quero crer que o que falta para nós, trabalhadores é saber escolher nossos representantes e medir nossa força para que amanhã possamos eleger um sem número de trabalhadores para nos representar nas Câmaras Federal, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais e no Senado. Isso porque há uma certa tendência do trabalhador de entender que para representá-lo é necessário ser intelectual, ter diploma de advogado e uma série de coisas. Mas nenhum advogado, nenhum intelectual entende melhor o problema do trabalhador do que o próprio trabalhador. Basta o trabalhador começar a ser eleito para representar a sua classe.

- Esses 40.000 votos que você potencialmente teria ficariam para quem?
- Eu não represento 40.000 votos. Há um engano. Eu tive 28.000.000 votos nas eleições do sindicato. Eu respeito o direito de o trabalhador escolher o seu candidato.

- (Roberto Augusto Ferreira Galvão, secretário de Relações do Trabalho de São Paulo) - Você não acha que a projeção que você tem hoje como líder sindical deve-se à autonomia que o sindicalismo tem atualmente no Brasil?
- Há um equívoco da pessoa que me fez essa pergunta, porque não existe autonomia no sindicalismo brasileiro. O que existe é a coragem e a falta de ‘rabo preso’ de alguns dirigentes sindicais para com o governo, a classe política, os empresários e até para com a fonte ideológica. Existe um grupo de dirigentes sindicais sérios, honestos, dispostos a brigar por sua categoria. Eu não acho que exista autonomia sindical no Brasil. A estrutura sindical brasileira hoje é a mesma que existia em l939.

- (Erasmo Dias, ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo) Nós participamos ativamente em 62 e 65, acompanhando a atividade sindical, em particular na Baixada Santista, na época, no Fórum Sindical de Debates. E temos acompanhado, desde lá até agora, todo movimento sindical. Eu perguntaria ao Lula: quais as perspectivas que ele vê de 62 até os dias de hoje na evolução do movimento sindical dentro da dinâmica do movimento político brasileiro?
- Eu teria que fazer uma certa divisão do movimento sindical antes de 64 e após 64. É um ponto de vista muito pessoal; eu acredito que o movimento sindical antes de 64 foi muito usado politicamente, fazia-se talvez muita politicalha em vez de defender realmente a categoria. Após 64 surgiram alguns dirigentes sindicais, dentre os quais eu quero me incluir, que não têm compromissos políticos com quem quer que seja e que estão pura e simplesmente dispostos a qualquer sacrifício para a defesa da classe trabalhadora que eles representam.

- Eu estou achando que, por enquanto, você se manteve no nível do sindicato verbal. Quer dizer: está falando muito mas fazendo pouco, ou seja, xingar o regime atualmente todo mundo faz, inclusive o Magalhães Pinto. Nesse sentido, você se aproxima dele. Então eu queria saber o que você tem feito realmente para ativar alguma coisa ao nível do sindicato, ou seja, que tipo de atuação você acha que se possa ter na atual estrutura sindical?
- Eu acho que a pessoa que fez essa pergunta cometeu um equívoco; querer comparar o movimento sindical atuante eu poderia citar alguns companheiros de Belo Horizonte, de Porto Alegre, do Rio de Janeiro e mesmo de São Paulo - com a atuação de hoje, do senador Magalhães Pinto. Eu acho que a coisa mais importante na vida do homem é ele vender idéias, e existem os aceitadores, os compradores dessas idéias. Eu acredito até que, não o Sindicato de São Bernardo, mas a categoria metalúrgica de São Bernardo do Campo e Diadema tem dado uma demonstração ao Brasil de que não é difícil unir a classe trabalhadora e de que a classe trabalhadora, acreditando na força que tem, pode conseguir sua liberdade.

- Lula, a pergunta tinha uma avaliação implícita. Você está falando muito e fazendo muito pouco.
- Eu acho que falando já estou fazendo muito. Há milhares de dirigentes sindicais que nem isso fazem. Eu quero é que todos falem um pouco. E a partir do momento em que todos falarem um pouco, que todos venderem suas idéias, eu acredito que a classe trabalhadora marchará para uma vitória que será irreversível.

- E as greves recentes, como em algumas indústrias de automóveis e caminhões, são devidas à sua fala ou a alguma coisa mais?
- Eu espero que os ouvintes julguem isso. Eu acredito que as greves surgidas em algumas empresas de meu setor e em outros setores são conseqüência do sufoco em que a classe trabalhadora se encontra. Todo trabalhador, quando sente seu estômago doer, quer se libertar daquela dor. É aí que acontecem as greves.


- Por que a classe metalúrgica não participou das reuniões do sindicato?
- É muito difícil analisar hoje, por que o trabalhador não participa das assembléias do sindicato. Recentemente recebi a visita de companheiros de outros países, e citaria um país muito avançado em termos sindicais, a Suécia. E o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Suécia me dizia que nas assembléias deles também não comparecem mais do que 1500 ou 2000 trabalhadores. Acontece que não devemos ver salvação do sindicalismo brasileiro ou da classe trabalhadora na quantidade de trabalhadores, mas numa minoria de trabalhadores conscientizada, num grupo de trabalhadores que, unidos, chegam a um consenso de coordenar uma luta de classes. E aí teríamos a participação de toda a classe. Agora, está mentindo quem disser que só irá fazer um movimento da classe trabalhadora quando tiver todos os trabalhadores no sindicato. Mesmo porque não existe nenhuma sede de sindicato que tenha um salão onde caibam mais de 3000 pessoas. Então, nós devemos selecionar um grupo de trabalhadores conscientes, prepará-los e, a partir daí, soltá-los dentro das fábricas para que eles comecem afazer o sindicalismo dentro delas, pois é lá que nasce o autêntico sindicalismo.


- Eu não sou sindicalizado porque eu entro às 15 para as 8 e saio ás 5 e meia todos os dias. Eu não tenho tempo. Aos sábados eu trabalho quase a mesma coisa. Eu não tenho para nada. Aos domingos o sindicato não funciona. Mas eu gostaria de ser sócio do sindicato.
- Igual a esse companheiro existem centenas e milhões de companheiros. Não ficam sócios do sindicato porque não têm tempo de ir ao sindicato. Porque o horário de trabalho não permite que ele freqüente o sindicato. Mas eu dou um conselho a esse companheiro: fique sócio do sindicato da categoria à qual pertence, pois o sindicalismo não é feito dentro da sede do sindicato, nem no gabinete médico, nem no odontológico. Sindicalismo é feito dentro da fábrica, na seção ou até mesmo no pé da máquina.

- Eu queria saber por que o aumento de 40% que a gente esperava em relação ao ano passado, não veio.
- Eu acho que a pergunta deveria ser feita ao presidente da República, que é quem decreta os reajustes de salário. Por parte do sindicato, eu sei que às vezes há até um mal entendido. Nós tentamos mostrar à classe trabalhadora, que eu represento, que tudo o que foi feito até hoje em termos de política salarial é uma farsa, é mentira, porque os sindicatos estão apenas encobrindo uma política salarial que não permite, em nenhum instante, que o sindicato consiga alguma coisa a mais para os trabalhadores. Já tivemos assembléias no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo em que nós rejeitamos até proposta de 2% a mais da classe empresarial, por algumas conquistas que nós entendíamos mais válidas do que 1 ou 2%. E o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo já esperava 39 ou 40%, porque ninguém sabe como o Ministério do Trabalho faz para encontrar o fator de reajuste. E o Sindicato de São Bernardo continuará mostrando aos trabalhadores que, enquanto não houver possibilidade de negociação direta entre trabalhador e empregador, enquanto o governo continuar com essa política salarial rígida, inflexível, a classe trabalhadora não saberá quanto irá receber de reajuste, e tampouco ela receberá aquilo que equivale ao aumento do custo de vida.

- Como o trabalhador calcula quanto ele deve receber de reajuste ? Tem algum economista ajudando a fazer esse cálculo?
- Temos como fonte de informação o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), que nos fornece quanto deveríamos receber para que nos equiparássemos, pelo menos, ao aumento do custo de vida. Mas o DIEESE, como muitas entidades que pesquisam o custo de vida, não é levado em consideração. Existe um grupo de economistas no Ministério do Trabalho que dizem que fazem pesquisa em 14 capitais do Brasil e que chegam a um denominador comum, ou seja, esse ano chegaram a 39% no mês de abril. E aí a gente começa a reparar as falhas, a ver os erros da política salarial. Em São Paulo, segundo o DIEESE, o aumento do custo de vida foi em torno de 43% e a Fundação Getulio Vargas calculou que em Belo Horizonte o aumento do custo de vida foi de 65% . E, em abril, os trabalhadores de São Paulo e Belo Horizonte tiveram seus salários reajustados em 39%. Daí é fácil a gente perceber a falha da política salarial, porque os companheiros de Belo Horizonte poderiam pelo menos receber, no mínimo, 60% para fazer frente ao aumento do custo de vida.


- Lula, gostaria de saber se o salário mínimo vigente no país condiz com a condição do aumento do custo de vida. - Por que o custo de vida aumenta mais do que o salário? - Porque o sindicato nunca consegue alcançar os aumentos que ocorrem sobre os alimentos? - Só quem vive do salário mínimo poderia imaginar que Cr$ 1.560,00, hoje, consiga viver. Ele pode quando muito vegetar. E o sindicato não consegue mais aumento para o trabalhador exatamente porque o trabalhador pensa que o sindicato é a diretoria do sindicato. Eu gostaria de dizer ao companheiro que me fez essa pergunta que ele precisa começar a entender que o sindicato nada mais é do que a união da classe trabalhadora, e que não espere da diretoria que ela faça milagres. Mas são os trabalhadores que têm que, não de fazer milagres, mas de lutar dentro da empresa com seu empregador, para conseguir melhores condições de vida, melhores condições salariais.

- Lula, você acha que o nosso governo vai solucionar facilmente o problema da inflação?
- Eu acho que o problema da inflação no Brasil é um problema sem solução, porque quando houve a Revolução em l964 o grande problema já era a inflação. Essa inflação continuou galopante. Criou-se uma política salarial em l965, para ter uma vigência de três anos, com a finalidade de conter a inflação. Essa política salarial está em vigência até a data de hoje e a inflação não foi contida. É uma demonstração viva de que os governantes brasileiros, quando culpam os salários pela inflação, culpam erradamente, porque quem causa a inflação, está mais do que provado, não é o salário. E se o nosso governo vier com a mentalidade de conter os salários para conter a inflação, eu quero dizer ao ilustre companheiro que nós iremos ter inflação galopante por muito tempo. Enquanto não se tentar coibir os abusos do tal open-market, do over-night, eu acho que a inflação continuará por muito tempo.

- Luís Inácio, seria possível você tentar junto às autoridades do governo o reescalonamento dos subsídios e das antecipações salariais, ou seja, em maio, por exemplo, os metalúrgico têm antecipação de 10 ou 12%.(pto.e vírg.) por que não tentar o reescalonamento, não em duas vezes, mas em três ou quatro vezes, para acompanhar o aumento do custo de vida que estamos sofrendo?
- Esta é uma briga que o sindicato de São Bernardo comprou há algum tempo, é uma briga na qual nosso sindicato, lamentavelmente, tem ouvido algumas negativas do governo, nem sempre convincentes. Há um reajuste uma vez por ano e há uma antecipação – que fica muito a cargo da benevolência de algumas empresas – seis meses após o dissídio coletivo. O sindicato de São Bernardo tem brigado e falado, e o trabalhador é testemunha de que nós estamos pedindo há muito tempo o salário móvel . E o que seria o salário móvel ? Seria o trabalhador não ter seu salário defasado durante 12 meses, para depois receber o reajuste – ou trimestral ou mensal – cada vez que aumentasse o custo de vida, se o trabalhador tivesse a recuperação de seu salário, talvez ele não fosse como é hoje, um grande perdedor dentro da vida brasileira.

- A gente tinha antigamente um adiantamento salarial, uma antecipação, melhor dizendo, e hoje em dia não temos mais isso. Então, seria muito importante lançarmos uma campanha junto ao povo, em que o povo participasse realmente – em especial o Sindicato dos Metalúrgicos, o dos gráficos e outros sindicatos importantes – para que o povo tivesse oportunidade de readquirir o direito de receber salário adiantado, ou antecipação. Isso seria importante porque, enquanto o custo de vida sobre uma enormidade, a gente tem de esperar aquela data X do aumento intersindical.
- Não sei se este companheiro trabalha em São Bernardo. Parece que ele não trabalha lá. Em São Bernardo do Campo as empresas dão antecipação. Isto já é praxe. Mesmo antes dos abonos de emergência decretados pelo governo em l968 e l974. Nós, em São Bernardo, temos um problema muito difícil> enquanto o restante dos trabalhadores deixaram de ganhar alguma coisa com a política econômica rígida do governo para com os trabalhadores, nós, em São Bernardo, não só deixamos de ganhar alguma coisa, como estamos perdendo aquilo que já tínhamos até l974. Eu poderia citar alguns exemplos: o trabalhador de São Bernardo do Campo tinha, principalmente da indústria automobilística, três, quatro aumentos fora o dissídio coletivo; depois da propalada crise do petróleo – eu procuro chamar isso de ‘depois da crise das contenções das despesas das empresas’, uma contenção que redundou em rebaixamento salarial - nós trabalhadores de São Bernardo começamos a perder bastante. Mas também quero avisar o companheiro que o problema não é categorias isoladas brigarem. Eu acho que é um problema de toda a classe trabalhadora, independentemente da categoria da qual cada um faz parte. A antecipação a empresa só dá... E eu quero deixar bem claro ao companheiro trabalhador que nenhum empresário vai dar aumento apenas porque ele quer, mas, isto sim, dar aumento pro trabalhador quando ele exigir. E eu acho que é o momento de a classe trabalhadora brasileira começar a exigir aquilo que é dela, ou seja, o direito de ganhar melhor, de viver com dignidade.

- Mas Lula, no caso dos metalúrgicos, não houve um benefício da classe quando o modelo econômico brasileiro privilegiou o desenvolvimento da indústria automobilística e, û, daqueles que dependem dessa indústria, no caso os metalúrgicos?
- Poderíamos chamar de benefício pura e simplesmente o fato do emprego, se é que podemos chamar de benefício. Mas nós precisamos saber talvez até os malefícios que vieram depois disso. E aí eu gostaria que cada trabalhador da indústria automobilística julgasse se, além do emprego que foi dado pela indústria automobilística, ele ganhou alguma coisa mais. Porque se ela não viesse, viriam outras indústrias, talvez até viessem indústrias do eixo de caroça, mas viriam indústrias e os trabalhadores iriam trabalhar, ou talvez fossem trabalhar no campo e, ao invés de produzir automóvel, eles produzissem alimentos, que é aquilo de que realmente o mundo está carente.

- É, mas nesse sentido, como é que você compara as condições de trabalho daquele que está no meio urbano e daquele que está no meio rural?
- Eu acho que a situação está ruim para os dois lados. E pior para o trabalhador do meio rural, exatamente porque se deu preferência a uma certa atividade, no nosso caso, ao setor automobilístico, esquecendo de uma vez por todas o meio rural. Mas eu acredito que, a médio prazo, o trabalhador rural irá exigir uma reforma agrária que dê terra para o trabalhador e meios para ele possa produzir e viver com respeito, cuidando de sua família talvez até melhor do que o trabalhador do meio urbano.

- Lula, o que você acha do salário do menor?
- O atual ou o que virá O atual já não representa aquilo que o menor deveria ganhar. Nós deveríamos dividir o menor em dois tipos de trabalhador. Um que trabalha na produção e que produz tanto quanto um adulto (pto.virg) e outro que é admitido na empresa como aprendiz. Na atual legislação, esse aprendiz recebe um pouco menos do que o salário mínimo. Agora, o governo vir com o argumento de que para acabar inclusive com os trombadinhas tem de reduzir o salário para que as empresas possam dar mais emprego, para nós, do Sindicato de São Bernardo Campo e Diadema, isso não cola.
- Seu Lula, o problema do menor abandonado é grave no Estado de São Paulo, nas grandes cidades. Na sua opinião, qual seria a medida exata para resolver esse problema ? - Raimundo Faoro, presidente da Ordem dos Advogos do Brasil) Tendo em conta o grande e alarmante número de menores carentes e abandonados no Brasil, quais as medidas que pretendem os sindicatos reivindicar para estabelecer condições de salário e de aprendizagem dos menores ?

- Eu acho essas perguntas totalmente idênticas. Primeiro que se dê ao trabalhador um salário digno. Segundo, que se dê recreação ao trabalhador e aos seus filhos, se dê áreas de lazer, escolas a todos, que acabarão os menores chamados de marginais, os menores abandonados. Quanto à segunda pergunta, eu acredito que a maior briga que o sindicato pode levar adiante para acabar com os menores abandonados... eu acredito que só alguma pessoa com tendência diabólica pode abandonar um menor; os menores que estão aí abandonados, é por falta de condições da família tratar dele, por falta de condições do pai ou da mãe para dar uma vida normal a esse menor. Isso só será resolvido a partir do a partir do momento em que o Estado assumir a responsabilidade de dar possibilidade para que cada família possa criar os seus filhos. E o sindicato pode lutar muito para que o trabalhador tenha um salário digno e para que cada chefe de família possa sustentar o seu filho evitando assim que ele venha a ser um menor abandonado.

- Qual a lei que falta para proteger o menor trabalhador, Lula ?
- Eu acho que a lei que falta para proteger o menor trabalhador é a contratação coletiva do trabalho, onde o sindicato, representando os trabalhadores e após uma decisão da categoria, pudesse negociar as condições de trabalho, as condições de salário, não para o menor, mas para todos os trabalhadores, sem distinção de sexo, de cor, de idade. E é a partir daí que eu vejo que a contratação coletiva do trabalho viria sanar todos os problemas, ou pelo menos 98% dos problemas existentes hoje para a classe trabalhadora.




- (Jorge Maluly Neto, ex-secretário do Trabalho de São Paulo) O que você pensa, quais são as suas teses sobre uma mudança do movimento sindical, não apenas em São Paulo, mas do movimento sindical brasileiro?
- Eu tenho provado com atos a necessidade de uma mudança tanto sindical, como empresarial, como governamental. Há uma mentalidade criada pelos empresários, pelo governo, de que o trabalhador e o causador de grandes prejuízos, porque o trabalhador é culpado pelo salário, e o trabalhador que precisa de educação..., porque o trabalhador precisa de escola e uma série de coisas. E os empresários acham que o salário do trabalhador é que causa prejuízos a eles. Os próprios dirigentes sindicais são culpados por isso porque, na sua grande maioria, não se dispõem a conversar, não se dispões a ser ais sinceros consigo mesmos, pra que, quando se encontrarem com uma autoridade, possam dizer a verdade, dizer o que a classe está passando e não ficar dando tapinhas nas costas das autoridades. Mas eu precisava deixar claro ao secretário de Relações do trabalho, ou melhor, ex-secretário, porque já se afastou, que a classe trabalhadora está bem mais preparada do que a classe empresarial. Falo isso convicto, porque estive conversando com dezenas e dezenas de empresários; falo isso convicto porque tenho conversado com dezenas e dezenas de autoridades, e falo isso convicto porque tenho conversado com milhares de trabalhadores. E se hoje existe nesta terra alguém preparado para o diálogo, esse alguém, não tenha dúvidas, Sr. Secretário, é a classe trabalhadora, que é honesta, responsável e que, acima de tudo, e patriota, que ama essa terra mais do que ninguém.

- Há cerca de um mês, 15 operários da Mercedes, isso foi em abril, entraram em greve, inclusive conseguiram realizar uma assembléia com cerca de 400 operários. Você não reconheceu a atitude deles, dizendo que o movimento se realizou fora do sindicato. Queria saber por quê.
- Eu acho que a pessoa que fez a pergunta está mal informada ou é daquelas de oposição sindical bem radicais, que às vezes não querem sequer usar pelo menos um mínimo de bom senso. Me desculpe, mas primeiro o sindicato não deixou de levar em consideração, em nenhum momento (o movimento dos operários da Mercedes). Apenas o que houve é que pelo cadastramento do movimento sindical, os trabalhadores fazem muitos movimentos à revelia do sindicato, o que eu acho até válido, porque a partir do momento em que for ao sindicato, o sindicato estará atrelado e terá que cumprir a lei e aí fica difícil ao trabalhador conseguir alguma coisa. Mas o que houve na Mercedes é que um grupo de trabalhadores esperava um reajuste naquele mês, não veio o reajuste, os companheiros pararam, estavam até organizados porque pararam todos, e 17 foram dispensados. O sindicato fez duas reuniões com a empresa, há perspectiva de reajuste para todos os trabalhadores e em nenhum instante o sindicato deixou de proteger esses trabalhadores. O que houve, isso sim, é que, pelo fato de o sindicalismo brasileiro de hoje estar desacreditado, o sindicato convocando não duas mas quatro reuniões de trabalhadores, nós tivemos lá por volta de 400 ou 500 trabalhadores. E não tenha dúvidas a pessoa que fez a pergunta, que uma das tônicas das discussões era nós sermos solidários com aqueles companheiros que tinham perdido o emprego. Mas, infelizmente, começamos a fazer reuniões e percebemos que começou a diminuir o número de companheiros que estavam participando. Mas o sindicato não estava desatento ao problema, mesmo porque vamos convocar novas reuniões, estivemos conversando com a empresa, estamos vendo se isso que a empresa está predisposta a discutir no momento – um reajustamento para o trabalhador – é verdadeiro. Porque se não for, o Sindicato de São Bernardo do Campo assumirá o seu papel e, se for necessário, até fazermos já paralisações solidárias a esses companheiros iremos fazer.

- Lula, você é o presidente do sindicato dos Metalúrgicos, portanto você representa a classe operária; eu vi você dando uma entrevista na televisão trajando um terno de colete, o que não representa um vestuário normal dos operários. Eu queria saber se você não ficaria melhor vestido num traje mais adequado à sua classe.
- Olha, essa pergunta foi motivo de uma briga minha com um grande jornalista, que acha que o trabalhador só tem que produzir, mas tem que andar miseravelmente, tem que comer mal porque aí é trabalhador autêntico, tem que estar como fome, senão não é trabalhador. Se dependesse de mim, se dependesse de minhas condições salariais, eu seria um trabalhador que andaria bem vestido, porque eu gosto de andar bem vestido. Eu não quero usar as palavras do Joãozinho Trinta, mas, realmente, miséria não é para a classe trabalhadora, porque a classe trabalhadora não gosta de miséria. Eu não queria dar a fonte onde tinha comprado o meu terno com colete, mas eu preciso dizer a meu companheiro que o meu terno custou Cr$ 1.750,00, e eu o comprei na cooperativa da Volkswagen, quando nem tinha direito de comprar, foi um companheiro que comprou para mim. Agora, eu peço até a Deus que num futuro bem próximo, todos os trabalhadores possam por terno e colete, pois acho que o trabalhador tem que ter tudo aquilo que ele produz até automóvel. Se o trabalhador produz, não é para a classe média usar, não é para os tubarões usarem, mas é para ele próprio trabalhador usar. Então eu acho que é um direito de termos, de possuirmos tudo aquilo que nós trabalhadores produzimos, porque senão nós iremos apenas produzir, iremos apenas vestir os outros, iremos apenas fazer os outros verem televisão a cores, iremos apenas fazer os outros nos atropelarem de automóvel, quando somos nós que produzimos, quando somos nós que construímos casas e para ser trabalhador autêntico, segundo a concepção deste companheiro, nós deveríamos morar em favelas. Ora, eu acho que a autenticidade do trabalhador não está na mendigagem dele em se vestir. Eu fui fazer uma reportagem para um jornal e fui com uma camiseta de João Ferrador; então, lá eu fui considerado autêntico porque estava mal vestido. Talvez se eu fosse de terno e colete, não fosse considerado autêntico. Eu acho que a autenticidade da pessoa não está no traje, mas nas idéias, nos atos que tenho dado demonstração de que se não tenho sido mais autêntico, é porque eu não sei ser mais autêntico, mas estou convicto de que sou honesto para com a classe que represento, de que tenho dado de mim o máximo que posso dar e em nenhum instante seria um paletó ou um colete que iria mudar as minhas atitudes para com os trabalhadores.

- O movimento estudantil constantemente coloca a necessidade de uma união entre os operários e os estudantes. Então eu auero saber como os estudantes podem se integrar ao movimento operário.
- Sem querer ofender nossos estudantes – talvez o meu grau de cultura, eu só tenho o curso primário, tenho o curso ginasial eliminado na base de fazer X, eu não aprendi muito, eu só tenho curso de torneiro mecânico, talvez essa minha desinformação é que me leve a ser assim – mas eu acho que a melhor maneira de os estudantes ajudarem a classe trabalhadora seria eles ficarem dentro das universidades.

- E o queria perguntar para o Lula o seguinte: a gente vê hoje vários setores da sociedade se mobilizando na campanha da anistia. Eu queria saber do Lula, enquanto líder sindical, enquanto líder operário, como é que ele acha que os operários devam participar desta campanha pela anistia, de que forma os operários devam participar, e se existe uma preocupação pela anistia dos operários que foram cassados, banidos em 68, por exemplo, o José Ibrahim que participou da greve de Osasco, em 68.
- De sã consciência, nenhum brasileiro hoje pode ser contra a anistia. Eu acredito que o trabalhador também é a favor da anistia, não só dos líderes operários que estão fora. E eu até gostaria de contestar o companheiro, no sentido de que eu não gosto que me chamem de líder, pois eu não sou líder. Se eu fosse líder, comandava a minha classe para fazer o que bem entendesse. E nós sabemos que aqui no Brasil ninguém lidera nada. Eu gostaria de ser chamado de dirigente sindical, porque não me considero líder. Quanto à anistia, eu entendo que todos devem ser a favor da anistia. Mas há de se entender também que existe uma anistia para a classe trabalhadora de que ninguém tem falado. Eu acho que a classe trabalhadora está realmente precisando de uma anistia, porque ela é a grande prisioneira nessa terra. Um trabalhador que levanta às 4 horas da manhã e chega em casa às 8 da noite está precisando de uma anistia, sabe, para ele poder ter uma vida um pouco melhor. E tem pouquíssima gente se preocupando com esse tipo de anistia. Sou a favor da anistia, mas me preocupa muito mais uma anistia para a classe trabalhadora, que é realmente a grande sofredora, eu não diria só no Brasil, mas em qualquer parte do mundo.

- Como você vê a discriminação da mulher trabalhadora?
- Existe. Existe e foi denunciada no Congresso da Mulher Trabalhadora, que nosso sindicato realizou entre os dias 21 e 28 de janeiro. Existe discriminação porque as próprias mulheres a denunciaram. Por parte do sindicato, nós esperamos nunca mais realizar um congresso de mulheres, porque esperamos acabar com este tipo de discriminação, convocando então um congresso de toda a categoria metalúrgica, com a participação de homens e mulheres. Dentro da fábrica existe discriminação da mulher. Não existe nenhuma fábrica, por exemplo, em que não haja chapinha ou fichinha que a mulher deve pedir ao chefe para ir ao banheiro. Para o homem não existe, mas para a mulher existe fichinha. A mulher faz o mesmo serviço do homem e não ganha o mesmo salário do homem, quando a Constituição proíbe isso. Isso está provado, quem quiser constatar é só ir ao sindicato examinar algumas carteiras profissionais, é só ir na porta das fábricas e conversar com as mulheres trabalhadoras. Existe discriminação no tratamento da chefia para com a mulher, desde cantada de chefe, até a persuasão, a coação para que a mulher produza muito mais, porque a mulher foi criada, doutrinada, massificada, convencida de que ela faz parte do sexo fraco. E se ela faz parte do sexo fraco, não pode brigar com o chefe. E há algumas denúncias até engraçadas. Outro dia uma mulher me procurou e disse que lamentavelmente ela era mulher e não podia partir a cara do chefe dela, porque se ela fosse homem, esperava o chefe na rua e lhe partia a cara, de tanto que esse elemento que tem um cargo de chefia perturbava ela, forçando-a a trabalhar e produzir muito mais do que o permitido pela capacidade física dela.

- Eu gostaria de saber qual a sua impressão sobre o novo governador Laudo Natel.
- Eu não tenho impressão sobre o novo governador, mesmo porque eu não tive nenhuma participação na sua escolha. No dia seguinte ao da escolha do novo governador, eu disse que, pelo menos para mim, ele não tem nenhum compromisso com a classe trabalhadora, porque ele não foi escolhido pela classe trabalhadora. Ele tem compromissos, isto sim, com as pessoas que o escolheram para ser governador do Estado de São Paulo. Eu não acredito que o senhor Laudo Natel venha a fazer muita coisa pela classe trabalhadora. Ele já foi duas vezes governador e pouco fez pelos trabalhadores. E não será desta vez que ele irá fazer alguma coisa. Salvo se a classe trabalhadora estiver preparada para exigir do governador tomadas de posição que a beneficiem.

- (Presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis) Haveria condições de o seu sindicato, através de pesquisa, nos informar o percentual de associados que deixam de adquirir a casa própria por dificuldade de comprovação de renda, nos termos exigidos pelo BNH?
- Eu não sei se é um político que fez a pergunta, mas se for político, acho bom que ele vá até o Sindicato de São Bernardo ou até a porta das fábricas ver se o trabalhador realmente tem condiçõees de comprar casa do BNH.

- (Direção do programa) Ele não é político. É o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis.
- Então eu preciso informar a ele que hoje o trabalhador metalúrgico de São Bernardo do Campo que ganha até dez salários mínimos está praticamente impossibilitado de comprar uma casa pelo Sistema Financeiro de Habitação. Isto porque em São Bernardo, qualquer metro quadrado de terra, em qualquer lugar, custa Cr$ 20.000,00. Então, a grande verdade que esse presidente do Sindicato de Corretores de Imóveis deve saber é que o BNH está usando o dinheiro do trabalhador em prejuízo do próprio trabalhador, causando a especulação imobiliária e impossibilitando o trabalhador de, nos grandes centros urbanos, ter sua casa, porque o salário dele não permite comprar. E eu gostaria de citar um exemplo, de mostrar o milagre sem dizer o nome do santo. Uma determinada empresa, preocupada em resolver o problema habitacional de seus trabalhadores, resolveu construir casas para eles. E veja, senhor presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis, como a coisa é drástica. Essa empresa está vendendo casas aos trabalhadores com uma metragem de 36m2, incluindo quintal. E para comprar essa casa, o trabalhador tem que ganhar mais de Cr$ 6.200,00. E de 70% a 80% da nossa categoria não ganham isso. Então, veja por que em São Bernardo do Campo existe hoje um cinturão negro de barracos com trabalhadores especializados morando em favelas porque na podem pagar aluguel e tampouco comprar uma casa.

-O que você acha da atuação da Igreja nos movimentos de massa ?
- Eu respeito muito a Igreja. Uma vez eu declarei a uma revista que a Igreja estava cumprindo o papel de quem estava com remorso. Ela tinha ficado parada durante muito tempo e agora surgiu como a grande salvadora da classe trabalhadora. Quando eu disse isso eu não quis atacar, eu não quis agredir determinadas pessoas realmente dispostas a lutar em benefício da classe trabalhadora, ou tentar pelo menos trabalhar na arregimentação da classe trabalhadora. O que eu acho, e isso eu ainda preciso discutir com determinadas pessoas, é que não podem ser criados movimentos paralelos ao movimento sindical, pois isso prejudica a classe trabalhadora. Eu acho que tudo deveria ser canalizado através dos sindicatos. Se o sindicato não funciona, que os trabalhadores façam o sindicato funcionar, expurgando de lá os maus dirigentes sindicais. Eu acho que existem algumas pessoas de extrema validade dentro da Igreja, mas, sinceramente, sob pena de não agradar a muita gente, eu acho eu a Igreja tem um pouco de responsabilidade pela situação que a classe trabalhadora vive hoje. E só por isso que eu não vejo a Igreja como salvadora da classe trabalhadora.


- Eu gostaria de saber o que você acha das Brigadas Vermelhas, e da morte de Aldo Moro.
- Eu sou contra qualquer tipo de radicalismo, eu acho que não é matando pessoa que nós vamos encontrar as soluções para os nossos problemas. Não conheço os problemas políticos da Itália que levaram ao surgimento das Brigadas, mas eu acho que elas não deveriam existir, porque é lamentável que, sendo só Deus que tem o direito de tirar uma vida, grupos que falam em defesa de não sei quem, procurem matar pessoas querendo salvar assim uma nação. Não aceito que existam esses tipos de grupo, mesmo porque radicalismo gera radicalismo. Enquanto eles estão matando um, os outros vão querer matar a eles e isso vai acabar numa grande matança, o que não traz benefícios a ninguém. Eu acho que os homens podem resolver os problemas deles conversando, mas sem partir para a morte, que é um direito que cabe só a Deus.


- (General Dilermando Gomes Monteiro) – Como comandante do II Exército, um dos problemas que muito me preocupam é o da segurança, portanto, da possibilidade de infiltração de ideologias extremistas, como é a ideologia comunista, no seio do operariado, Isso é uma preocupação de todos nós. E eu gostaria de saber como o Lula vê a possibilidade de impedir que haja essa infiltração nos sindicatos operários.
- Eu sou contra o radicalismo tanto de esquerda como de direita. Eu acho que o radicalismo não leva a nada. Agora eu queira dizer ao general Dilermando, comandante do II Exército, que a associação do meu sindicato é livre e eu não consigo identificar quem é de extrema direita e quem é de extrema esquerda. Mas eu gostaria, isto, sim, que o comandante do II Exército nos ajudasse a brigar pela liberdade sindical, e me desse o direito, não só a mim mas a todos os dirigentes sindicais que não têm compromissos ideológicos, de lutarem contra qualquer um dos dois extremos.

- (Direção do programa) - Lula, você, a partir das respostas deste programa, não se considera um candidato Porque você se comportou como um candidato.
- Não, eu acho que tive a minha candidatura lançada em outubro do ano passado, nas eleições do sindicato, e eu ganhei as eleições, mesmo porque não houve uma chapa de oposição. Não sou candidato, não sou filiado a partido político, não tenho intenção de me filiar, não tenho intenção de ser candidato, embora alguns companheiros amigos até benevolentes, achem que eu seja um grande candidato. Mas não sou candidato realmente, não tenho interesse. O meu interesse por enquanto é fazer um trabalho sério na frente do sindicato, com a ajuda da diretoria, que é muito séria; isso é muito mais importante para o trabalhador do que eu ser candidato.



(*) Após as entrevistas,  vêm os discursos de Luís Inácio. Em um deles, veremos o sindicalista convencendo os operáros a perder boa parte de seu salário para manter uma greve que durou mais de um mes e prejudicou os 'trabalhadô', que, segundo ele, têm muito a perder como assalariado, ao contrário dos estudantes.






terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Entrevista ao Jornal do Brasil

10 de abril de 1978

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O assunto desta entrevista é o direito de greve, principal lema de Luís Inácio para atiçar os operários. Antes de sua transcrição está o quadro abaixo, com um texto do livro Viagens com o Presidente (págs 90/91), que evidencia a enorme diferença entre o sindicalista e o atual presidente.


Tanto nesta como em todas as outras, é evidente que Luís Inácio não aceita coisa alguma que parta  'do outro lado' , pois precisa se manter em eterna luta, pois é disso que depende sua imagem.

Luís Inácio critica investimento do governo em empresas com dificuldades financeiras, o que agora, na presidência da República, já fez diversas vezes. Fala sobre a importância do direito de greve para o trabalhador. Justamente ele, o grande admirador e amigo de Fidel Castro, autoritário e opressor que jamais respeitou a vontade do povo cubano, dentre diversos outros ditadores. 
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Apresentação
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Tendo como referência uma entrevista concedida pelo general Figueiredo à Folha de S.Paulo, Lula coloca aqui com extrema clareza seus conceitos sobre o direito de greve, salientando que esse direito não deve sofrer restrições: “o direito de greve deve ser universal”. Sobre negociações diretas, e tendo sempre o papel do governo, nas negociações, deve ser o de árbitro e não ode tutor, como tem acontecido.
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- O que achou do conceito do direito de greve emitido pelo general Figueiredo na entrevista à Folha de S.Paulo? - Achei o conceito de greve do general muito relativo, porque ele discrimina setores e isso já existe na atual lei de greve. Hoje só podem fazer greve os trabalhadores de determinados setores. Então, ele não está inovando nada, porque, a partir do momento em que ele diz que um determinado setor não pode fazer greve está admitindo que os trabalhadores desse setor podem ser espoliados pelos empregadores. O direito de greve deve ser universal. Nele o trabalhador se sente na obrigação de lutar por melhores condições de vida, melhores condições de salários em qualquer atividade. Se ele trabalha no setor de combustível, por exemplo, sabe que o povo não pode ficar sem combustível, mas nem por isso deve deixar de lutar. Os empregadores desse setor é que têm de resolver o problema o mais imediatamente possível para causar menos problemas à população.


- Acha possível fixar objetivamente que tipo de indústria não pode parar, por causar prejuízos muito e levados à comunidade? - Acho que todos os setores deveriam, quando necessário, fazer greve, por todos os setores têm empregadores e trabalhadores e em todos existem as relações sociais. Se ficarmos a favor dessa idéia de que determinados setores não podem parar porque são prioritários, cairemos numa esparrela. Pode ser que amanhã, o governo passe a considerar um automóvel um produto essencial à ação e aí os trabalhadores da indústria automobilística não poderiam fazer greve. Levando o caso a um extremo maior, os refrigeradores poderão vir a ser considerados também prioritários e aí os trabalhadores do setor não poderiam parar. Então, acho que a condição sine qua non para o direito de grevê é apenas a existência de trabalhadores e de empregadores.


- Mas não acha que já há um progresso no fato de o futuro presidente, pelo menos, admitir o direito de greve? - Eu acho que todos eles admitiram, mas, veja, o direito de greve, na atual estrutura legal, inexiste, pelo menos na prática.


- O senhor foi o homem que iniciou as negociações diretas entre empregadores e trabalhadores, tentando um acordo direto com os patrões. O que achou da idéia do general Figueiredo, segundo a qual o governo deve ser sempre o árbitro, através da Justiça do Trabalho? - O grande problema está exatamente na Justiça do Trabalho. Eu entendo que quando ele fala que de um lado existe um grupo de trabalhadores reivindicando e um grupo de empregadores, de outro, negando, tem razão. Mas aí estaria o fator principal do direito de greve. Agora, o papel do governo teria que ser realmente o de árbitro. Deveria, na verdade, haver um árbitro designado pelo governo ou pelo Judiciário para tentar conciliar os interesses. Mas não seria um papel de impor, como está impondo, no momento, a Justiça do Trabalho.


- Então acha que a Justiça não tem funcionado como árbitro? - Às vezes a Justiça até veta o direito de se negociar. Por isso,s não acho que ela tenha sido árbitro, mas uma tutora. A diferença é a seguinte: o árbitro deve permitir que as duas partes lutem até se chegar a um acordo e hoje a Justiça do Trabalho nem permite essa tentativa de acordo. No caso do reajuste salarial este ano, temos um exemplo muito bom, pelo qual aparece claramente o fato de a Justiça do Trabalho haver dado o resultado do jogo antes mesmo que ele começasse. Que tipo de árbitro, então, é esse? A Justiça do Trabalho decidiu o aumento sem sequer saber se haveria a possibilidade de um acordo prévio.

- O que achou dos conceitos emitidos pelo general Figueiredo sobre a privatização das empresas estatais? - Eu acho que ele tem razão. O governo não pode assumir as responsabilidades de nossos patrões, principalmente daqueles que são maus administradores. É muito cômodo o empresário cismar de montar uma empresa, mesmo ela sendo inviável, sem ter o menor risco porque ele sabe que o governo sempre o salvará com uma boa injeção de investimentos, afinal de contas dinheiro do povo. O governo não pode assumir os riscos e as responsabilidades de empresas que só dão prejuízo à Nação. Um exemplo prático é o caso da Lutfalla. O governo jogou rios de dinheiro lá dentro, beneficiando meia dúzia de pessoas e usando como argumento o fato de não poder deixar na rua 1500 operários, porque então seria criado um problema social.
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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entrevista à Revista Visão

3 de abril de l978


COMENTÁRIOS SOBRE A ENTREVISTA

“Porque, eu não sei” - Ao responder sobre o motivo de sua rápida ascensão Luís Inácio se faz de bobo. Encaminha o assunto, de maneira dissimulada, para fato de o sindicato ser inexpressivo até ... ele se tornar presidente.

Fala de seu desejo de ver sindicatos dentro das empresas   (em 78, a fábrica Villares manter o vínculo empregatício com o sindicalista, afastado desde 72, certamente aliviada, pois é impossível a qualquer empresa funcionar com um operário incentivando os outros a pararem as máquinas ao invés de trabalhar .

Nega que o sindicato faça algumas campanhas com o objetivo de se promover, o que já era evidente pela própria pergunta formulada. Na base do “vou fazer e acontecer”, ainda um tanto tímido, procura evidenciar seu poder de exigir. Se diz pela liberdade, mas não admite o livre mercado, pois esta falsa liberdade apregoada seria direito apenas dos trabalhadores, mas não das empresas.

Nesta entrevista já é evidente sua intenção de abrir um novo partido político. Insiste na necessidade da atuação dos trabalhadores na política – “sinto a possibilidade de os trabalhadores participarem dos partidos políticos. Talvez não nos existentes atualmente, mas em outros cujos programas se afinem com as aspirações dos trabalhadores”.

Ao defender a participação de todos os brasileiros na vida política, diz o seguinte: "O dirigente sindical deve levar para a campanha, pura e simplesmente, o prestígio adquirido – se é que conseguiu algum". Ou seja, se refere a ELE próprio por ser o único sindicalislta com prestígio na época.

Em outro trecho fala sobre a necessidade dos trabalhadores terem representantes no Legislativo para mudar leis, porém em l986 foi deputado federal inapto, omisso e não fez coisa alguma. Além disso, dentre outras presapadas, Luís Inácio fala sobre acabar com a contribuição sindical e o índice de reajustamento salarial que não deve ser decretado pelo presidente da República. Pois hoje o ex-sindicalista é presidente da República e nada disso mudou.


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Apresentação
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Quando Lula concedeu esta entrevista, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema estava começando a se tornar famoso: iniciara-se lá a campanha pela complementação do reajuste salarial de l973, que havia sido muito menor do que a inflação real. Os dados que serviram de base para o cálculo desse reajuste tinham sido manipulados pelo governo, o que resultou numa significativa perda de poder aquisitivo dos trabalhadores. Na opinião de Lula, essa campanha foi, “depois da Revolução de l964, o maior movimento sindical, em âmbito nacional, ocorrido no país”.
Numa linguagem simples, porém sempre clara e bem articulada, ele explica porque seu sindicato se negou a participar do processo de reajuste salarial tutelado pela Justiça do Trabalho, em 978. Fala também sobre a inadequação da estrutura sindical brasileira, que “dá a impressão de ter sido feita antes de existirem trabalhadores”, sobre as vantagens do contrato coletivo de trabalho e da negociação direta entre patrões e empregados, sem interferência do governo. Dá ainda sua opinião sobre a liberdade de iniciativa no campo econômico, sobre a co-gestão nas empresas e sobre a participação dos sindicatos na política do país.

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- Em pouco tempo você se tornou uma pessoa conhecida em todo o país. Como foi sua ascensão como dirigente sindical? - Essa pergunta faz parte de outra, que eu mesmo me tenho colocado: porque nos últimos tempos, tanto jornal, tanta gente começa a falar dos metalúrgicos? Por que, de repente, as empresas jornalísticas começam a permitir a publicação de matérias com trabalhadores? Até l975, em são Paulo, apenas dois jornais publicavam pequenas colunas com assuntos sindicais. Nessa época – e antes – o nosso sindicato funcionava como agora. Muitas coisas que eu falo hoje já dizia há cinco, seis, dez anos. A diferença é que agora elas são púbicas, ouvidas. O mesmo ocorre com centenas de outros sindicatos e dirigentes. Não foi o sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema que descobriu a imprensa – ele foi descoberto. Por que , eu não sei.

- Que fato deu notoriedade ao sindicato e a você ? É um sindicato grande? Com muita participação? - O fato que nos trouxe às páginas dos jornais talvez tenha sido o episódio com a empresa Ford. Ela queria diminuir o salário dos empregados e o sindicato não aceitou. Consideramos que a redução era injusta – até porque os lucros da empresa não haviam sido distribuídos e não haveria, portanto, justiça em dividir os prejuízos, baixando os salário. Um detalhe: a Ford queria reduzir o salário dos trabalhadores do setor de produção e manter o salário dos gerentes e mestres. Depois, disso, no ano passado, tivemos a campanha em favor da reposição do salário de l973, dada a diferença entre as estatísticas oficiais e o custo de vida. A partir dessas situações – digamos, a partir de maio do ano passado - , o sindicato começou a ganhar espaço na imprensa e a se tornar mais conhecido. Mas o trabalho realizado agora é apenas conseqüência e continuação do trabalho efetuado pelos colegas que nos antecederam. Além disso, não me parece muito vantajosa essa notoriedade: é muita responsabilidade sobre uma mesma entidade. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema tem 39.000 associados. Do total, 80% usam o sindicato para alguma coisa e pouco mais de 10% participam ativamente de política sindical. Isso significa que ainda precisamos mudar a mentalidade: sindicato não é órgão de assistência médica; é entidade de reivindicação e participação do trabalhador. Quanto à minha carreira como dirigente sindical: comecei em l969, como suplente de diretoria. Na ocasião, eu trabalhava na produção da empresa Villares. Em l972, afastei-me da fábrica para ser primeiro-secretário e, em l975, assumi a presidência. Agora, fui e leito novamente para mais três anos. E, se Deus quiser, será meu último mandato.


- A campanha pela complementação do reajuste de l973 acabou servindo ao sindicato como arma de propaganda. Agora, quando vocês se recusam a participar de um processo de reajuste tutelado pela Justiça do Trabalho, essa atitude não tem, também, uma função de propaganda? - Em primeiro lugar, a campanha pela reposição salarial não foi propaganda. Ela foi, na minha opinião, depois da Revolução de l964, o maior movimento sindical, em âmbito nacional, ocorrido no país. E muitos outros sindicatos ainda entrarão na lista dos que querem a reposição. Quanto à nossa decisão de não aceitar um reajuste arbitrado pela Justiça do Trabalho, a intenção é clara: nós queremos mostrar que o sindicato não tem influência. Queremos conscientizar o trabalhador para a importância da sua participação nessa luta. Queremos mostrar que ele só conseguirá reajustes mais justos, aumentos salariais condizentes com as necessidades, quando discutir diretamente com o empregador.

- Qual a possibilidade de vocês conseguirem, como querem, um contrato coletivo de trabalho, com negociação direta entre empresário e trabalhador, sem interferência do governo? - Praticamente não existe possibilidade. Eventualmente vamos conseguir do empregador a concessão de um ou dois itens. Não há possibilidade de contratação coletiva de trabalho sem direito de greve. Tivemos muitos exemplos práticos disso. Eu mesmo estive várias vezes conversando com representantes da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (FIESP), com o presidente do sindicato dos Fabricantes de Autopeças, com representantes de empresários. Eles simplesmente desconversa, dizem que não podem dar isso, não podem conceder aquilo. Alegam um monte de coisas. O trabalhador pede, o empregador diz que não pode dar. O que acontece então? Nós, os trabalhadores, devemos acatar um índice de reajustamento decretado pelo presidente da República. Essa situação nós queremos mostrar à classe trabalhadora. É o momento da verdade – pelo menos para o nosso sindicato. Se nós acreditávamos numa série de coisas no passado, daqui para a frente só nos resta mostrar que erramos. E tentar, dentro do possível, acertar. Talvez neste ano a gente não consiga nada: ainda não temos nem pauta de reivindicações e o nosso processo já foi enviado para o Tribunal para a resolução do dissídio. Mas queremos mostrar aos trabalhadores que, com ou sem assembléia, com ou sem discussão, com ou sem reivindicações, o reajuste vem por decreto. Nós não conseguimos influir.

- Quais são os riscos de vocês perderem a data-base, o reajuste, etc? - Não estamos preocupados com a data-base. Definitivamente, eu não sou adepto da teoria do quanto pior, melhor. Mas, talvez, se perdêssemos alguma coisa e o trabalhador sentisse um baque, ele viesse a enxergar a necessidade de participar, de influir.

- A contratação coletiva de trabalho que vocês advogam é a mesma existente da CLT introduzida no governo Castelo Branco? - É impossível fazer contratação coletiva de trabalho dentro do que a CLT estabelece hoje. Na mesma lei em que há um artigo dizendo ser possível essa contratação, há a ressalva de que, se o patrão se recusar, o processo será remetido para a Justiça do Trabalho. A legislação trabalhista atual é injusta. Tão injusta que estamos pedindo a mudança na natureza do contrato de trabalho. Hoje o trabalhador assina um contrato individual - leonino, às vezes, com seu empregador. Sem nenhum poder de barganha, sozinho. Queremos que ele possa assinar um contrato coletivo: a empresa de um lado e um grupo de trabalhadores de outro. Essa é uma das metas do nosso sindicato. Nós vamos também começar a discutir o salário profissional e o fundo de desemprego. Atualmente, o trabalhador não pode reivindicar, pois corre o risco de perder o emprego. Em todos os países desenvolvidos há um fundo de desemprego. No Brasil não há.

- Você considera a estrutura e a legislação sindical adequadas a essas pretensões? - A estrutura sindical brasileira dá a impressão de ter sido feita antes de existirem trabalhadores. Ela é totalmente inadequada. Não se adapta à realidade, foi feita de cima para baixo. O sindicato nasceu, no Brasil, não por vontade do trabalhado, mas por desejo do governo. É preciso acabar com a contribuição sindical que atrela o sindicato ao Estado. A estrutura e a legislação deveriam ser reformuladas como resultado das necessidades. O sindicato ideal é aquele que surge espontaneamente, que existe porque o trabalhador exige que ele exista. Deve ser uma entidade que defenda os interesses da categoria sem muita burocracia. Eu talvez não possa dizer exatamente que tipo de sindicalismo o trabalhador brasileiro gostaria de ter. Mas, a partir de abril, nós vamos organizar um seminário para mostrar o que temos como estrutura sindical. O próprio trabalhador, com o tempo, se encarregará de dizer o que deve ser mudado. O que eu posso afirmar é que a estrutura atual é ineficiente, inoperante, do ponto de vista do trabalhador. Um exemplo: a lei prevê a existência de 24 representantes (sete diretores e dezessete suplentes) para sindicatos que tenham 2000 ou 3000.000 associados. O nosso sindicato, por exemplo, tem empregados em 623 empresas da região, mas só pode manter delegados em 12 delas. Mais a lei não permite. Então, temos 611 empresas sem representantes do sindicato – o que, naturalmente, dificulta a representação.

- O que você propõe? - Eu sou favorável ao pluralismo sindical. Sindicatos dentro das empresas e, também, sindicatos por categorias econômicas. Eventualmente, entidades centrais. Por que não?
- Uma CGT? - Sim. Mas não dentro da atual estrutura sindical. Agora, ela seria a reunião de alguns trabalhadores que passariam a ser cúpula de uma organização que nada pode resolver porque a estrutura não permite. Essas entidades surgirão quando houver maior participação. Mas acredito que a liberdade sindical virá depois da liberdade política.

- Você, que defende a liberdade sindical, defende também a liberdade econômica, a liberdade de iniciativa? - Sou amante da liberdade. Deve haver liberdade de negociação, de empreendimento. Liberdade.

- E você acredita que a liberdade de iniciativa no campo econômico seja condição essencial à existência de um verdadeiro regime democrático? -É mais do indispensável. É a essência da democracia. Deve haver o direito de produzir e lucrar; assim como deve haver o direito do trabalhador de exigir sua participação em parte desses lucros. Até em conformidade com o aumento da produção e da produtividade. Eu não sou partidário da intervenção estatal. Ela deve ser mínima, restrita apenas a setores fundamentais da nação: saúde, educação, minérios, por exemplo. Minha posição é: deve haver liberdade para empreender e os empregados devem participar dos lucros.

- Nesse caso, você, que tem pregado a negociação livre, sem interferência do governo, entre patrões e empregados, é favorável, também à liberdade das empresas para estabelecer sua própria política, de acordo com as leis de mercado, sem a interferência do governo, como a que é exercida pelo CIP? - Desde que os preços sejam justos. Não sei se somente no livre jogo de mercado, com a oferta e procura, eles seriam justos. Muita gente poderia dificultar o livre trânsito das mercadorias pra conseguir preços melhores. No ano passado, por exemplo, houve uma grande queima de cebolas no Nordeste. Hoje, a cebola custa Cr$ 30,00 o quilo. Quem ganhou? Quem estocou. E quem estocou? Talvez quem tenha mandado queimar. Teríamos de ter uma fiscalização – uma comissão de representantes dos trabalhadores, dos empresários e também do governo – para garantir que e esses preços seriam justos. Hoje, a população é obrigada a comprar aquilo que existe, pelo preço da praça - não importa quão caro. Não há nem a possibilidade de reclamar. Quanto ao CIP, ele inclusive não funciona. Um exemplo prático: autoriza-se um aumento médio no preço dos automóveis de uma determinada fábrica, de 8%. Como um modelo vende mais do que outro e o aumento autorizado é médio, a empresa reajusta o preço do modelo mais vendido em 12% e o do menos vendido em 4%.

- O trabalhador deve participar da co-gestão de uma empresa? Ele deve responder pelos prejuízos da mesma maneira que participaria dos lucros? - O trabalhador deveria participar da co-gestão da empresa. Ele precisa saber o que acontece na empresa em que ele trabalha. E isso ele só vai saber se fizer parte do centro de decisões. Quanto aos prejuízos, no momento ele já está arcando com eles.

- Você é favorável à participação dos sindicatos na política? - Eu defendo a idéia de que o sindicato deve influir na política mas deve ser suficientemente forte para não permitir a ingerência política dentro dele. Não acredito que o sindicato deva atuar como partido político. Ele deve agir é como indicador para a classe trabalhadora. Acredito e sinto a possibilidade de os trabalhadores participarem dos partidos políticos. Talvez não nos existentes atualmente , mas em outros cujos programas se afinem com as aspirações dos trabalhadores. Nós poderíamos ter representantes no Legislativo e mudar certas leis que até hoje não foram alteradas porque há raríssimos representantes dos trabalhadores nos órgãos legislativos. Não acredito que se deva atrelar o sindicato a algum partido. Mas acho, que, inevitavelmente, um dos partidos apresentará melhor programa para os trabalhadores.

- Você defende, então a participação de líderes sindicais em eleições? - Eu defendo a participação de todos os brasileiros na vida política – sejam eles dirigentes sindicais ou não. Mas não concordo com a utilização da estrutura sindical nessa eleição. O dirigente sindical deve levar para a campanha, pura e simplesmente, o prestígio adquirido – se é que conseguiu algum. Ele deve esperar contar com o apoio da classe trabalhadora, mas nunca esperar contar com o sindicato como entidade.

- Qual é o grau de poder que o sindicato deve ter? - A classe trabalhadora, como integrante de uma parte maior da sociedade brasileira, deveria ter mais peso político. Hoje, não tem nada. Os próprios dirigentes sindicais – e eu me incluo entre eles – não souberam aproveitar esse maior poder de influência que poderia ter.

- Influir pelo voto? - É uma das maneiras. A casse trabalhadora deveria exercer influência em todas as decisões governamentais, não só em época de eleição.

- Você é favorável a uma união dos trabalhadores com o MDB ou com estudantes, na conjuntura atual? - Não acredito nessa união em instante nenhum. O movimento estudantil é válido mas os interesses são totalmente divergentes. De um lado, uns têm muito a perder; de outro, pouquíssimo. Cada um deve atuar em faixa própria. Não vejo também o MDB como salvação de nada. É um partido, como a Arena. Tem gente boa no MDB, assim como há gente boa na Arena. O sindicato deve participar somente daquilo que é melhor para a classe, seja de qual partido for. E, mesmo se o assunto a ser discutido não for estritamente trabalhista. No futuro, se houver condições, o sindicato terá de participar da discussão de problemas habitacionais, de saúde, educação. Isso tudo afeta a vida do trabalhador.

- Quais são os riscos de manipulação dessa força, em favor de interesses que não sejam os da classe? - Repito o que disse: o sindicato deve influir na política mas não se deve deixar utilizar, não deve permitir ingerências. E para isso ele precisa ser forte, ter participação.

- Você já foi pressionado? Já tentaram suborná-lo? - Se eu falasse que já sofri pressões, estaria mentindo. Nunca sofri pressão de espécie alguma. Em tom de brincadeira, posso admitir que as únicas pressões que sofro são as da minha esposa para que eu volte a ter mais tempo para a família. Quanto à outra questão, só se suborna quem é subornável. Nunca ninguém tentou fazer isso comigo. E não teria condições morais pra tentar. Nós, aqui no sindicato, estamos convictos do que queremos e dos meios a serem utilizados para conseguir isso. O caminho ficou muito tempo fechado, o mato cresceu e está impedindo os trilhos. Agora, estamos apenas cortando o mato, desobstruindo a linha.

- Você está afastado da fábrica desde l972. Que fará quando terminar seu mandato? Você se candidataria? - Meu mandato termina daqui a três anos. Ainda nem tomei posse no novo período. Mas, de qualquer forma, nunca pensei em me candidatar a nada. Não tenho vocação política. Talvez daqui a três anos tenha mudado de opinião, mas pretendo voltar à minha profissão. O sindicato me paga, hoje, exatamente o que eu ganharia se estivesse trabalhando na fábrica. Voltando à profissão, portanto, não perderia nada – e pelo menos teria horário certo para chegar em casa.
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terça-feira, 6 de janeiro de 2009