Lula
concedeu esta
entrevista três meses antes da greve decretada pelos metalúrgicos no dia 1o. de
abril de l980. Aqui ele fala das inovações introduzidas na campanha salarial do
ano.
A
proposição de estender a luta
dos trabalhadores para outros pontos, além da reivindicação por
um percentual de aumento, é a primeira inovação apontada por Lula. Ele passa a
falar então sobre esses outros pontos e a explicar por que eles são
importantes. Analisa também as possibilidades de vitória, faz considerações
sobre a mobilização dos trabalhadores em torno das novas reivindicações e fala
de sua expectativa quanto à greve nessa campanha.
- Tem sido dito que a campanha de São Bernardo, para o próximo
ano, vai inovar em termos do que vem ocorrendo até agora neste ciclo grevista.
Como é que está a coisa?
-
Além das reuniões por empresa que cada diretor do sindicato vem fazendo,
tirando nomes de companheiros que serão os porta-vozes das propostas do sindicato dentro da empresa e que vão
integrar as comissões de negociação, nós estamos tentando inovar, mostrando para o trabalhador que existem
algumas brigas mais sérias do que simplesmente por um percentual.
Nós temos dito que não adianta o trabalhador obter um bom aumento, se daí a um
certo tempo ele é dispensado e quando se emprega novamente volta a receber 40%
ou 60% a menos do que antes.
Em
função disto vamos tentar dar ênfase à garantia do emprego e ao salário
profissional.
No
Brasil não existe uma definição profissional. Existe aquela feita pelas
empresas, mas não uma que o trabalhador apresenta e luta por ela e a reconheça. As empresas dividem os trabalhadores
como bem entendem e instauram assim uma concorrência entre eles. E mais, dentro
de uma mesma definição profissional estabelecida pela empresa, por exemplo, a
de ferramenteiro, você encontra salários desde Cr$ 59,00 até Cr$ 103,00 por
hora.
Este
trabalhador de Cr$ 103,00, quando despedido, volta a se empregar com um salário
muito mais baixo. Enfim, o trabalhador está sempre começando da estaca zero.
É
como na brincadeira do pau-de-sebo. As empresas colocam o salário teto no alto
e põem os trabalhadores brincando de quem chega lá em cima. Assim , vamos lutar na campanha para
estabelecer um salário profissional que seja a média dos salários existentes;
ou seja, um piso profissional. Não vamos estabelecer um teto, pois isto é
questão de capacidade ... de
briga dos trabalhadores, é questão da oferta e da procura.
Esta
conquista tem outro lado, que é o de diminuir o medo do trabalhador de ser
mandado embora da empresa, uma vez que ele sabe que seu novo emprego não irá
remunerá-lo irrisoriamente.
Enfim,
há várias reivindicações que estão latentes no interior das empresas e que
devem ser levadas em conta.
Por exemplo, a oferta de transporte para o trabalhador, por
todas as empresas. Há um mundo de safadagens dentro das empresas que tem que
vir à tona.
- Isto não; toda reivindicação é uma luta. Esta agora é mais sustentável nas discussões com os patrões. Um percentual de 90%, por exemplo, é mais retrucável pelo empregador dizendo que não agüenta, que o culpado das perdas foi o governo, etc. Agora, o piso profissional se escora na lei que diz que para trabalho igual, salário igual.
- Você acha que este tipo de campanha mobiliza mais? Qual sua excpectativa quanto às futuras assembléias?
- Esta campanha será mobilizadora a partir do momento em que tivermos capacidade de mobilizar os trabalhadores . Aqui
- Estamos preparando uma campanha salarial e os resultados dela é que levarão ou não os trabalhadores à greve. Todos gostaríamos de fazer um bom acordo sem ser necessário chegar à greve, pois a greve não é um fim, mas sim um meio para se conseguir determinados acordos sem greves. Agora não sei a forma em que será feita a greve. Vamos jogar algumas idéias para os trabalhadores e vermos se é possível chegarmos a algumas formas de pressão dentro das empresas antes de chegarmos às greves gerais.
Em Tempo, 10 a 16 de janeiro de l980
Um comentário:
Passei por aqui e gostei do que vi e li
Airton
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